No
Alentejo dizia-se assim, quando se ia à inspecção militar e a malta se safava
da guerra do ultramar.
Nos
meus tempos de liceu, tinhamos pavor de tirar uma negativa! Agora, a idade
avançou e quando fazemos análises, só queremos mesmo tirar NEGATIVAS!
Felizmente
foi o que me sucedeu – Amigos, tirei uma excelente NEGATIVA nas análises que
fiz ontem, dia 17 – endoscopia e colonscopia. A médica suspeitava que eu
tivesse um cancro no cólon e felizmente NÃO TENHO!
Fui
às sortes e safê-me!
Realmente
alguns amigos já me tinham garantido – “Luis, não custa nada, nem sentes,
quando acordares, já passou...” Mas eu estava com medo era dos resultados!
Gostava de ainda por cá andar mais uns anos...
Às
15 horas de uma terça feira chuvosa dei entrada no North Shore Hospital.
Instalaram-me na ala norte do Hospital – 2º andar, quarto 250. Quarto
individual, limpinho, decoração simples, mas simpático e com aparelho de
televisão. Janela para o parque de estacionamento do Hospital.
Entrou
a enferrmeira de serviço. Bonita, elegante, loira, de olhos azuis e uma
pronúncia que me era vagamente familiar! “Hello,
I’m Linda, I’m british... from London!” “Ah...” – respondo eu – “from The
Beatles country!” “Yes… but the Beatles are from Liverpool!” “yes, I know that”
Uau
– Beatles? Logo no começo? Uau... é bom sinal!
A
Bianca, de uma total dedicação, acompanhou-me sempre. Reparei que ela estava um
pouco nervosa. Descansei-a contando umas piadas, mas suponho que ela reparou
que também eu estava diferente e nervoso. Por mais forte que se seja e
“preparado”, nunca se está pronto para uma sentença grave!
Começaram
as preps que é como quem diz, as
preparações para o tormento das análises!
Tive
de beber, ao longo de quatro horas, mais de dez litros de água e um preparado
qualquer a saber a vitamina C, ligeiramente esbranquiçado.
Às
sete da tarde mudou o turno das enfermeiras.
Entrou
outra – baixinha, de pele muito branca, magra, olhos verdes.
“Hello,
I’m Lorraine, I’m irish!” “Oh, my name is Luis and I’m portuguese.”
“Really?
So we are brothers – we are both gaelic!” (Ai
é? Então somos irmãos porque somos ambos gaélicos).
Estava
em casa! Realmente a cultura celta, teve o seu berço na Irlanda e marcou
indelevelmente a língua portuguesa uma vez que a presença dos celtiberos na
Península foi significativa e embora não muito prolongada, foi o suficiente
para ter influenciado a nossa forma de falar, de sentir, de nos expressarmos.
Palavras como Fado, Faena e Fandango vêm directamente da cultura celta, ou da
língua gaélica, como eles gostam de assinalar.
Só
por curiosidade, acrescento que Fado significa uma “tasca” onde se vai beber e
ouvir canções nostalgicas. Ainda hoje na Irlanda se usa!
Durante
a noite a Bianca teve de sair (embora as vsitas fossem só até às 20 horas, ela
ficou até às 21h).
A
noite foi em branco, uma vez que as preps
fizeram efeito e tive de ir (bem contadinhas) 18 vezes à sanita descarregar a
água toda que entrara e limpar tudo muito bem para a colonscopia do dia
seguinte!
De
meia em meia hora a irlandesa vinha dedicada e cuidadosamente perguntar-me “my
darling, hello, is everything all right?”
Assistência
de 1ª classe! Melhor? Impossível! E na Austrália é assim: a custo quase zero!
Na
manhã seguinte, a irlandesa veio avisar-me de que eu seria o 1º a avançar para
as análises!
Pelas
8 horas um enfermeiro australiano, do tipo dos jogadores de rugby, tipo
armário, 1, 90m, cabelo rapado e lenço enrolado à volta da cabeça, entrou,
apresentou-se, cumprimentou-me e disse-me – vá, entre para cima da cama e eu
vou levá-lo para a enfermaria das análises!
Respondi-lhe
que eu poderia ir a pé! Ele olhou-me espantado e disse-me que se eu quisesse
fazê-lo poderia, mas ele teria de levar a cama na mesma! Ah...ok – perebi que
eu teria mesmo de ir deitado porque seria assim que eu iria ser sujeito às
análises!
Saloio!
Nunca fiz uma coisas destas... ninguém adivinha! Eu sabia lá...
Fui
saudado por três médicos. O da colonscopia – que eu já conhecia – indiano, que
tinha estado em Portugal, num congresso médico, há anos atrás. Professor
universitário, o simpático Dr, Sandanayake, que me sossegou e disse que não ia
custar nada “mais fácil do que o Cristiano Ronaldo marcar um golo!”
Estava
um médico chinês que era o anastesista e me saudou calorosamente como se me
conhecesse e uma médica australiana (a da endoscopia), menos comunicativa, mas
com um ar profissional.
Apanhei
a injecção no peito da mão esquerda e só me lembro da médica me mandar morder
um objecto que entretanto me colocou entre os dentes!
Mais
nada!
45
minutos depois acordei noutro local – e uma mulatinha simpática (talvez
indonésia) disse-me: you are recovering – estás a voltar a ti!
Meia
hora depois apareceu o Dr. Sandanayake que me saudou de novo e me disse com um
sorriso que nunca mais esqueço – está tudo bem! Não tens cancro. Só tinhas um pólipo que tirei. De resto
tens as paredes do aparelho digestivo muito vermelhas, mas é da falta de ferro.
Daqui a quatro semanas quero-te ver no meu consultório aqui do hospital. Mas
fica sossegado – não tens cancro!
Apeteceu-me
saltar da cama e correr para um telefone, ou para um computador e começar a
enviar mensagens!
Estava
sem forças e com sono ainda, devido à sedação.
Quando
o “jogador de rugby” me levou de novo para o quarto 250 lá estava a minha
Bianca ansiosa à espera e creio que lhe adivinhei uma lágrima a correr pelas
faces quando lhe disse do que o Dr. Sandanayake me garantira. “Eu sabia! Tu és
como a Fénix!”
Daí
a pouco entrou uma nova enfermeira de turno!
Indiana,
linda, de cabelo comprido! “Hello, my name is Pria, and I’m from India!”
My name
is Luis and I’m Portuguese! And you came from India, but where from? Da Índia, mas de onde? De Goa!
Uau… lindooooooo! Continuava a jogar em casa! Ela sorriu e deve-se ter
recordado do passado comum de Portugal e Goa, Damão e Diu!
Não
comia nada desde domingo ao jantar.
Era
terça-feira e a fomeca dava sinal! Ainda não era meio-dia e a Pria mandou que
me fosse servido o almoço. Não sei se seria assim tão bom, mas achei-o
delicioso e papei-o num instante!
Logo
após o “repasto” saímos. Lá vim com a Bianca para casa. Quando cheguei, não
tive alternativa: deitei-me cansado, cheio de sono e feliz!
Dormi
até hoje, 4ª feira, dia 18, até meio da manhã.
À
tarde tinha uma tarefa sagrada – comunicar com todos os meus amigos e dizer-lhes
simplesmente que
FUI
ÀS SORTES E SAFÊ-ME!
Luis
Arriaga
Sydney, aos 18 de
Setembro de 2013.
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