segunda-feira, 4 de novembro de 2013

CRÓNICAS do Fim-do-Mundo 5 - A Situação Portuguesa

No Queen Victoria Building a Bianca com os amigos Allan e Peter-framed
Já há muito que não tenho o tempo e o sossego necessários para pôr a escrita em dia e as semanas vão passando e as Crónicas vão ficando só na vontade de as escrever! Mas hoje, enquanto a Bianca se ocupa com os detalhes da Emigração Australiana (para dar sustento à minha candidatura a um Visto de Parceiro), decidi voltar ao computador para as Crónicas da ordem.

Cabe aqui referir, para os que eventualmente tenham dúvidas sobre o nível de detalhes que as entidades australianas exigem no preenchimento da muita papelada, meus caros, eles querem saber, entre outras coisas, quando começou o relacionamento entre mim e a Bianca, como começou, a que propósito e (espantem-se) quando tivémos a primeira relação sexual e onde! Vá lá... que não exigem que a gente a descreva... francamente!

Lá vou consultando a Internet para ir sabendo da evolução da crise política no nosso rectângulo e devo confessar-vos que nunca estive tão sinceramente preocupado com a marcha dos acontecimentos, uma vez que quem está de fora acaba por ter uma percepção diferente das coisas e digo-vos que a sensação que eu (e não só...) tenho, é a de que até ao fim do ano se vai passar algo de drástico (não sei se me faço entender...). Numa entrevista concedida à TVI, o responsável pela classe dos sargentos declarava significativamente “nós militares somos subordinados, mas não somos subservientes...” Julgo que está  tudo dito e não deverão restar dúvidas sobre o espírito reinante entre os que têm legitimidade para empunhar as armas! E não me venham com argumentos legalistas do tipo “um golpe de estado é ilegal, inconstitucional”, ou outra parvoice qualquer.

Também o 25 de Abril era ilegal e inconstitucional e fez-se. E o povo saíu à rua e aderiu e legitimou a revolução que agora tarda já em reaparecer. Mas desta vez não vai haver cravos...

A propósito de uma notícia aparecida há dias no google sobre melancias sem sementes produzidas em Idanha-a-Nova, li um comentário que um daqueles repentistas anónimos apresentou na internet e que dizia simplesmente (e transcrevo): Boa ideia! Já agora podem tentar fazer bananas sem casca , ananás sem picos, sexo sem esforço, chouriços sem carne de porco, alheiras vegetais, presunto sem gordura... enfim um mundo de facilidades e depois queixem-se que eles chegando a grandes não sabem fazer a ponta de um corno e se refugiem na política...!

Lindooooooooooo! (acrescentei eu!)

Ano Novo

De 16 para 17 de Setembro os Judeus de todo o mundo comemoraram o Ano Novo Judaico – Rosh Hashna – entrámos no Ano 5773 e por isso desejo a todos um excelente Ano Novo.

SHALOM!!!

Como se poderá perceber pela Numerologia (5+7+7+3=4), as datas de 4, 13 e 22 (todas elas somam 4) são datas marcantes este ano. Daí que eu e a Bianca nos casemos a 13 de Outubro, logo após a maior festa anual do Calendário Judaico – a Festa do Perdão, ou Yom Kipur – que se comemora em datas móveis, mas que este ano calha (em termos de calendário ocidental comum) a partir de 26 de Setembro e até 3 de Outubro.

A Festa do Perdão é algo semelhante à Páscoa Católica. É um período de recolhimento e de jejuns, em que as famílias se reunem e rezam pedindo a Deus que nos perdoe os pecados e em que nós prometemos também perdoar a quem nos fez mal, a quem nos criou problemas, a quem nos difamou e pensou mal de nós, a quem nos tirou dinheiro. Temos mesmo de perdoar e só com esse espírito sincero de remissão e perdão é possível que se cumpra o propósito do Yom Kipur.

Os que me conhecem melhor estarão a pensar se eu perdoei à Teresa e se terei esquecido todos os males provocados aquando da nossa separação! Sim, claro que perdoei, mas não esqueci. São as lições da vida!
Alguém sabe dela?

Curiosamente, ainda em Mafra, frequentei (infelizmente não totalmente) um interessantíssimo curso ministrado pela querida amiga Pauluxa e onde conheci gente maravilhosa a quem aproveito aqui para prestar a minha homenagem – Ana Paula Tomás, Carla Santos, Suzete Guerras e o Joaquim – e vem isto a propósito dos ensinamentos de um curso da Louise Hay (“Pode Curar a Sua Vida”), uma extraordinária pensadora na área do desenvolvimento pessoal e uma positivista que também nos ensina a perdoar, com amor puro e sempre cumprindo parâmetros de auto-aceitação.

Agora em Sydney... Ano Novo... Vida Nova!

Sydney

Com o passar dos dias (e já cá estou há dois meses), vou conhecendo melhor a cidade e vou percebendo um pouco mais das características próprias desta grande metrópole que tem uma divisão administrativa semelhante à utilizada entre nós.

Ou seja, se chamássemos Lisboa a toda a área correspondente à Região Metropolitana de Lisboa e se estendesse um pouco até mais longe (Amadora, Sintra, Mafra, Torres Vedras, Lourinhã, Caldas da Rainha, para o outro lado Estoril e Cascais, para o lado de lá do Rio Tejo, Almada, Costa da Caparica, Barreiro, Seixal, etc. até Setúbal), digamos que se poderia dizer que Lisboa também era uma das maiores cidades europeias e teríamos uma Lisboa com metade do tamanho de Sydney.

Sydney é o somatório de uma enorme série de municipalidades dispersas e que, com um crescimento sustentado e organizado, fez com que fosse ganhando forma um imenso núcleo urbano que mantém as originais municipalidades, mas que se foi acoplando e hoje não se dá pelo atravessamento das antigas localidades, que contudo sobrevivem e mantêm a sua autonomia  administrativa e clubística.

Já vos referi que aqui o futebol não tem expressão. Eles chamam ao futebol – soccer – e o desporto-rei é o Rugby, bem como o Cricket. As equipas principais correspondem aos respectivos bairros, isto é, aos municípios. E dão-lhes nomes de animais, um pouco à semelhança do que se passava na África do Sul...

Eu vivo em Merrylands, um “lugar” da municipalidade de Parramatta e a equipa local (equipamento semelhante ao do Futebol Clube do Porto), é a Eels (Enguias). Existem os Cangurus, os Wallabies, os Koalas, os Sharks, Bulldogs, Tigers, Dingos, etc.

Todos os fins-de-semana há grandes derbys e quando os desafios são entre a Austrália e a Nova Zelândia (os All Blacks) é uma paranóia, uma loucura e o país pára, a televisão transmite em directo e as claques passam-se dos carretos. A África do Sul também cá vem jogar com alguma frequência, mas a rivalidade não é tão grande como com os Kiwis (a designação que aqui se dá aos naturais da Nova Zelândia). Só por curiosidade, a selecção da África do Sul também se designa pelo nome de um animal, lindo por sinal, a elegante Impala – Springbock – em inglês.

Para evitar fugas aos impostos e permitir que as vedetas do Rugby recebam à semelhança dos futebolistas, grandes salários, os clubes autofinanciam-se organizando Casinos que estão abertos todas as noites até de madrugada. E aqui não há fugas aos impostos. Os clubes pagam e não bufam! Em compensação, não há Stanley Ho com estatuto especial de corrida como o escandaloso exemplo do monopolista Casino Estoril. Os clubes podem organizar os seus próprios casinos que são as suas grandes fontes de receita. Uma das curiosidades é que, para evitar bebedeiras e condutores alcoolizados, os clubes proporcionam transporte gratuito aos seus adeptos, quer em dias de jogos, quer nos outros dias e assim incentivam a presença constante dos associados.

A Bianca é associada dos Eels e eu qualquer dia também vou inscrever-me. O cartão é feito na hora, com fotografia e tudo, e a inscrição custa 10 dollars que são reembolsados mediante a inteligente medida da passagem imediata de um voucher utilizável no bar do estádio em refeições, ou lanches. De hora a hora sai um autocarro que gratuitamente vai transportar a casa os adeptos que queiram aproveitar o transporte. O circuito é variável consoante os locais (do município) onde os adeptos vivam. Hein? Que tal? Simples, eficaz e simpático. Assim vale a pena ser adepto e frequentar as instalações!    

Aqui na Austrália impera o espírito prático. Nada é complicado. Se é complicado, ou se deixa de lado, ou se dá a volta ao  texto.

Também há coisas desagradáveis! Querem um exemplo?

Com a chegada do tempo quente (ultimamente tem estado muito calor, mais de 30 graus... para Primavera é demais...), aparecem as baratas, as “cucarachas” grandes, voadoras e nojentas. Já tive de matar três delas que entram para dentro de casa não sei como, e por mais limpezas que se façam, as “putas” das baratinhas (cockroach em inglês) entram e afligem os mais sensíveis.

Salvation Army

Esta instituição com origem nos Estados Unidos da América e constituída com objectivos filantrópicos, para proporcionar alimentação, roupa e abrigo a pobres e genericamente a todos os que disso careçam, vive da imprescindível colaboração de Voluntários que prestam serviço gratuitamente. A população habituou-se a doar tudo o que já não usa e as fábricas (têxteis, calçado, electrodomésticos, etc.), também oferecem muita coisa que os voluntários recebem na organização, classificam, arrumam e depois vendem nos armazéns SALVOS, espalhados pela cidade e vendem a preços verdadeiramente loucos, super-baratos.

Aqui, um Curriculum que não inclua voluntariado é desconsiderado. Um estudante universitário, de engenharia, medicina, arquitectura, seja do que for, tem de incluir uma componente de voluntariado no seu CV. Caso contrário, anos mais tarde, ao concorrer a um emprego pode ver-se ultrapassado por um outro candidato com um curriculum potencialmente mais fraco mas que passa à frente por ter contribuído para a comunidade com o exercício de voluntariado.

Explicado este aspecto do voluntariado, volto ao Salvation Army para dizer que é hábito toda a gente frequentar o SALVOS (designação por que são conhecidos os espaços de venda de artigos recolhidos pelo Salvation Army), para adquirir coisas em 2ª mão e que às vezes são absolutamente novas – toalhas, fatos de treino, calças, vestidos, móveis, aparelhagens, loiça, sapatos, T-shirts, saias, enfim... um mundo de peças e objectos que se vendem a preços verdadeiramente impensáveis.  Quando usadas, são peças rigorosamente recuperadas e limpinhas, absolutamente aptas a ser usadas. Nada de coisas miseráveis e nojentas, sem  perspectiva de uso, nada disso!

Há dias, eu e a Bianca fomos a uma loja do SALVOS  e trouxemos um cobertor, um fato de banho para mim, duas toalhas, um vestido para a Bianca, um par de chávenas de café, três T-shirts, tudo por sete dollars (mais ou menos 5,5 euros)! Que tal? Em Portugal este tipo de mercado daria muito jeitinho não era? Julgo que infelizmente o português terá agora que se começar a habituar a estes procedimentos humildes e económicos, embora não goste de usar roupa em 2ª mão. Este tipo de mercado vai certamente começar a crescer em Portugal.

Por outro lado, aqui na Austrália, toda a gente tem orgulho em dizer que este artigo, este móvel, esta cadeira, este robe, este pijama, este fato de banho, foi adquirido em 2ª mão no SALVOS. Mentalidades...

Casamento

A data aproxima-se e o 13 de Outubro é já daqui a uma semana. Iniciámos os preparativos e já enviámos os Convites e as Participações – por Correio e por mail.

A maioria dos meus amigos recebe Participações porque vir de Portugal aqui, só para o casório, é pouco praticável – sejamos objectivos!

As alianças vêm de Portugal – o nosso ouro é melhor (18 a 24 quilates) e a nossa mão de obra é muito mais barata. As nossas alianças custaram 450 euros (as duas) e aqui cada uma delas teria esse preço.

O celebrante, o Sr. Tim Addison é rodesiano (hoje Zimbabwe), conheceu Moçambique e fala meia-dúzia de palavras em português. Quando teve uma reunião preparatória connosco e soube que eu era natural de Moçambique, Lourenço Marques (hoje Maputo), disse logo que adorava a galinha à Piri-Piri, com muito picante, e que tinha comido no famoso restaurante da Av. 24 de Julho em LM.

Dos preparativos fez parte a preocupação em ter uma Menorah Judaica para dar algum simbolismo à cerimónia, já que não casamos numa Sinagoga. Em Sydney a Sinagoga é quase exclusiva dos Judeus Askenasi, que pouco convivem com os Sefarditas (Sefarydin) da Península Ibérica. Na Austrália, Sefarditas só em Melbourne, no sul, a capital cultural deste imenso país.

Bom e o casamento judeu pressupõe a presença de pelo menos dez testemunhas – eu ainda não conheço 10 testemunhas, judeus cá residentes. Um dia talvez os venha a conhecer, por enquanto não!
Ainda assim, consegui que me emprestassem uma Menorah para a cerimónia (aquela estrutura tipo candelabro com sete, ou nove velas). Esta que me vão emprestar tem nove velas e é muito antiga e bonita, veio de Israel e vai ser emprestada por uma dentista judia que conheci por cá.

Vamos prescindir de um velho hábito comum nos casamentos judeus que é o estilhaçar os copos depois de brindar aos noivos. O casamento vai decorrer em casa e a banda sonora vai ser música dos Anos 60 gravada pelo meu irmão Zé Couto que infelizmente não pode estar presente, mas já me prometeu vir em breve visitar-nos à terra do “down under” (Terras do fim-do-mundo) – daí o nome destas crónicas que vos envio com todo o meu amor!

Quanto à comida, aí é que tivemos de fazer concessões importantes, pois o dinheiro não abunda e em casa há quem saiba cozinhar divinamente – a Michelle – filipina, a dona da casa onde eu e a Bianca vivemos até ao Natal (mudaremos no Natal para uma casa só nossa, arrendada, claro). As especialidades serão, portanto, com sabor exótico e filipino, o que não deixa de ser giro porque, como vos dissera anteriormente, eu considero os filipinos, os portugueses do oriente, com o seu espírito de desenrasca, a sua graça constante, a sua hospitalidade, enfim, muitos dos seus hábitos a fazerem lembrar o nosso torrão natal.

Claro que não vou prescindir de umas especialidades portuguesas e para o efeito, eu e a Bianca já fomos a Petersham – o bairro onde vive a maioria dos emigrantes portugueses – e encomendámos galinha à portuguesa e pastéis de bacalhau! Tinha de ser! Adoro pastéis de bacalhau e acho que me dava uma coisinha má se os não tivesse na boda! O prato quente vai ser Paella à Filipina. Não esqueçamos que as Filipinas foram colónia espanhola e eles falam normalmente três línguas fluentes: castelhano (mas não gostam de se expressar na língua colonial), falam o inglês (língua internacional que no oriente todos falam desde o final da 2ª guerra mundial), e a língua nacional – o Tagallo.

Fotografias – sim muitas, vai haver três ou quatro pessoas a fotografar e estou em crer que após as naturais trocas de mails, os fotógrafos de ocasião me irão enviar por mail as melhores imagens para mais tarde recordar, como dizia o anúncio da Kodak.


O Foguete

A Bianca usando um motor de busca na Internet, recuperou uma gravação minha no Foguete, com quase trinta anos, um tema que gravei utilizando um playback, comigo à viola e um grande organista moçambicano em Orgão Hammond, o João Maurílio, que fez parte dos Inflexos. É uma canção de minha autoria (letra e música) e que nunca foi gravada em disco, e eu julgava completamente perdida nas brumas do tempo. Até chorei de comoção com a “descoberta” da Bianca.

Na ocasião, (1983, i.e. há 29 anos... meu Deus como o tempo passa) eu ainda não usava barba. Aquando das gravações de “O Foguete” não atribuí título ao tema, mas agora, baptizo-o de “Luis Arriaga esta noite em Concerto no Pavilhão Multi-Usos, pelas 22 horas” – um título comprido para um tema autobiográfico com menos de três minutos e que pode ser visto e ouvido através do link  http://www.youtube.com/watch?v=7uzFAZaL4-s

Só para que conste, este tema de minha autoria é dos que eu próprio considero dos mais inspirados que jamais terei composto. Dedico-o ao meu filho Ricardo Guerreiro Arriaga.

Bianca desempregada

Quando vim para a Austrália eu já sabia da necessidade de se cumprir um determinado pressuposto profissional na vida da Bianca – que o seu contrato fosse reconfirmado após chegar ao seu termo no final de Agosto.

Uma semana antes, os serviços respectivos contactaram-na e disseram-lhe que o contrato não seria renovado. Caíu-nos um balde de água gelada em cima, como se imagina!

Não quisemos assustar ninguém, nada dissemos e de imediato a Bianca voltou a procurar emprego, apresentando pela Internet o seu CV e propondo através do LinkedIn a sua capacidade de exercer uma excelente prestação como Analista de Sistemas de Gestão.

O Departamento de Tráfego Rodoviário e Marítimo de New South Wales, onde a Bianca estava como Técnica Superior, desde final de Março, não lhe renovava o contrato, cumprindo instruções gerais federativas, no sentido de reduzir pessoal não efectivo e lá estava o espectro do desemprego bem à nossa frente. Contar o dinheiro, refazer planos, planificar tudo por forma a garantir a sobrevivência não se sabia por quanto tempo.

Eu, desabituado à vida australiana, perfeitamente em pânico face ao vislumbre de uma eventual  vaga de despedimentos e desemprego, comecei a imaginar se não seria recomendável recolocarmos um plano B em execução – Brasil à vista!

A Bianca sossegou-me dizendo que seria uma questão de quatro ou cinco semanas e ela escolheria entre várias propostas que entretanto lhe chegariam. Achei-a demasiadamente optimista. Contudo, se tivesse apostado, eu teria perdido.

Diariamente n telefonemas e envio de dezenas de mails, contactos com agentes de emprego e reavaliação do Curriculum Vitae. Setembro foi marcado por uma nova e diferente vivência. Desta feita com o susto estampado na alma e a esperança no coração. Só alguns pouquíssimos amigos, mais chegados, conheciam a situação. Todos eles torcendo e fazendo votos para que a crise se resolvesse o melhor possível e o desespero passasse depressa. Era o caso da Maria Vitória, que da Malveira distante reforçava a confiança em dias melhores, assegurando que lá em cima, Deus zelava por todos nós com especial dedicação, e que não perdêssemos a fé em nós e Nele, porque tudo se resolveria bem e depressa.

Assim foi.

Uma bela tarde chegou um telefonema a marcar uma primeira reunião num elegante escritório da baixa de Sydney, numa empresa de Consultoria.

Não acompanhei a Bianca. Ela preferiu ir sozinha e encarar com coragem esta prova aos seus conhecimentos, aos seus nervos de aço e ao seu estatuto de profissional competente.

Nos dias anteriores também se haviam realizado entrevistas e consultas. Contactos surgiam, promessas muitas, respostas nenhumas. A disposição esboroava-se como pão velho, ressequido.

O telemóvel finalmente soou.

A Bianca telefonou-me dizendo que desta vez estava com uma esperança especial e que gostara muito da empresa e das perspectivas apresentadas. Neste nível de prestação, o salário é obviamente elevado e imagino que o empregador coloque um especial cuidado nas condições de contratação. Ponto de fulcro polémico – a capacidade e a experiência como líder de um grupo profissional. A Bianca nunca liderara um grupo. Foi profissional dedicada, mas falta-lhe prática como chefe, como líder de um team. Explico que o Mourinho começou por ser professor de ginástica e depois fora apenas tradutor do Bobbie Robson, a seguir liderou um grupo de marretas, (se me não engano, no União de Leiria...), e só posteriormente foi construindo uma carreira que hoje culmina com a opinião generalizada de ser o melhor treinador do mundo e um exímio condutor de atletas.

Segunda reunião na UXC – a tal companhia de Consultoria. O responsável pelas contratações informa-a de que hoje a entrevista vai ser determinante e com o número um da companhia, o próprio dono.
Último degrau da escadaria!

Afinal um homem simples, vai de jeans e sapatilhas e cordialmente conversa de vários assuntos, entre os quais, (oh espanto!), o facto de ser sócio de uma empresa de produção de vinhos em Portugal!!! Só foi a Portugal uma vez fazer o referido negócio dos vinhos, e qualquer dia pretende lá voltar.

No final da entrevista, detalhes acertados, compromissos assumidos e emprego conseguido!

Uff – alívio – desemprego ultrapassado – sucesso obtido – estratégia bem desenhada.

Nessa noite, combinou-se um jantar de família – havia notícias positivas – agora seria interessante juntar os dois filhos da Bianca num jantar de família, que ficou aprazado para sábado 22 de Setembro.
A Bianca estava inequivocamente de Parabéns.

Assalta-me à ideia uma frase que vi há dias estampada num montra de uma loja de artefactos de decoração, aqui em Sydney: Viver não é saber passar no meio dos pingos de chuva. Saber viver é saber dançar à chuva! Wow... absolutamente notável!

Feriado Dia do Trabalhador

Por cá, os feriados são evidentemente diferentes dos que comemoramos, existindo por vezes discrepâncias inexplicáveis à primeira vista. Se obviamente o 5 de Outubro não é Feriado cá, já o Dia do Trabalhador, comemorado em todo o mundo a 1 de Maio, é festejado por estas paragens a 1 de Outubro. Também na Europa se festeja o Dia do Pai a 19 de Março e por cá, no 2º domingo de Setembro, vá-se lá saber porquê!

Mas, para mim o ontem “acabou” e agora estou atento ao amanhã!

Ou, como diria o meu novo amigo Allan Charlton, Professor Universitário, (lecciona Media e Estratégias de Mercado e Análise de Audiências), amigo da Bianca e com quem demos um magnífico passeio no fim-de-semana passado, Ontem é um país estrangeiro que fechou as fronteiras... 


Queen Victoria Building

Não sei se alguma vez a Rainha Victória, que reinou longamente no Reino Unido, avó da actual Rainha Isabel, conhecida pela sua moral puritana e pelo rigor com que encarava todos os assuntos de família e todas as matérias de Estado, terá algum dia visitado este protectorado que é o território australiano, mas a verdade é que ela era aqui muito venerada e respeitada, existindo múltiplos vestígios dessa forma que os seus súbditos aqui tiveram de manter a sua recordação.

Em Sydney existe um fabuloso edifício, enorme, lindo, bem situado no centro da baixa da cidade e recuperado com esmero, com gosto, direi mesmo que com requinte, e hoje transformado no mais admirado Centro Comercial daquela que é considerada uma das cidades mais lindas do mundo.

No fim-de-semana passado combinou-se uma passeata (nada de compras que os tempos não estão para isso...) até ao Queen Victoria Building e o passeio incluía conviver com dois amigos da Bianca – o Peter Thomas, de Wollongong (que eu já conhecia do 1º fim-de-semana passado na Austrália) e Allan Charlton, Professor Universitário, a que acima faço alusão.

Seria redundante eu por-me a descrever as voltinhas dadas pelo Centro Comercial, no fundo iguais às voltinhas que todos damos no Colombo, nas Amoreiras, ou no Fonte Nova. Só vos direi que fiquei fascinado pela elegância deste Centro Comercial, pela riqueza arquitectónica e pela forma absolutamente imaginativa de como o antigo e o moderno se conjugam e integram num espaço público, limpíssimo, florido, seguro e bem organizado, nada cansativo, mantendo a dimensão humana, com atracções artísticas a cada canto, sucedendo-se em variedade e em imaginação. Claro que a mim, exerceu um fascínio especial a presença de um violinista tocando ao vivo, música clássica e também trechos de música ligeira (temas do repertório de Elvis Presley). Passeámos, conversámos e tomámos café.

Por curiosidade permitam-me revelar-vos que Allan, um prestigiadíssimo professor universitário (sem querer estabelecer comparações, direi que é um homem com um gabarito semelhante ao do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa), é um homem de extrema simplicidade e que está neste momento a terminar um livro sobre... (e agora está aqui a surpresa, pois em lugar de vos referir um chatíssimo book sobre uma qualquer tese universitária sobre Media e Estratégias de Mercado...), está a terminar um interessantíssimo livro de conselhos e receitas culinárias especialmente dirigidas a solteiros! Magnífico! Uma excelente ideia comercial e absolutamente essencial para rapazes e raparigas que, vivendo sozinhos, não têm nem tempo, nem jeito para a cozinha e para os desenrascar naquelas alturas especiais em que tenham de receber uma namorada a quem queiram impressionar, ou os pais dela, enfim... whoever!!!

Depois de visitarmos o Queen Victoria Building, passámos pela Town Hall, a Câmara Municipal de Sydney, que mantém hasteada a bandeira dos Aborígenes, recordando a quem passa por ali as origens deste país e o seu povo original, que mantém cultura própria, língua própria, estatuto de independência e reserva territorial incólume, no interior do imenso continente australiano. A bandeira tricolor é vermelha (representando a côr da terra ocre), o negro (das noites mágicas do continente) e ao centro, uma bola amarela (representando o sol que alumia os dias australianos).

Finalmente fomos dar um passeio de Monorail, um tenzinho de um só carril, que faz um circuito fechado em torno da baixa de Sydney e de onde se vislumbram paisagens absolutamente sumptuosas – por favor vejam o blog das fotos http://cronicasaustralia.blogspot.com.au

O blog contém mais 63 fotografias referentes à Crónica Vª de 6 de Outubro de 2012.

Destaco a graça (o humor subtil) da designação dada pelos australianos à bicuda ponte de ANZAC – “Soutien da Madona” – achei lindooooooooooooooo!!!

Jantar de 22 de Setembro

Por circunstâncias familiares diversas e que não vêm agora a propósito, já há vários anos que a Bianca não juntava os seus dois filhos num jantar familiar.

Encontrada a data de 22 de Setembro, assim se fez a reunião familiar que decorreu de forma tranquila e romântica, como mandam as regras de qualquer família que se preze, onde, de forma filial e respeitadora se recordou e reforçou aquele velho princípio United We Stand, Divided We Fall (Unidos Permaneceremos, Divididos Cairemos).

A noite terminou com uma sessão de Karaoke, a que eles aqui chamam (pronúncias...) de Karalhoki – o que a mim me faz invariavelmente rir a bandeiras despregadas, devido às semelhanças com algo que nós sabemos bem o que é...  Eles não compreendem e eu também decidi não lhes explicar...



ISRAEL

Recebi pela Internet um video extraordinário que decido partilhar com os leitores deste meu blog e destinatários das minhas crónicas – é um video promocional de Israel, que considero muto bem feito e rigoroso, sem divagações dispensáveis, ou propaganda chauvinista sem sentido:  http://www.youtube.com/embed/fwBzd2U8NVc?re1=0

Este trabalho festeja o 64º aniversário da independência do estado de Israel em 2012, ou 5773 do Calendário Judaico. A não perder – juro, prometo, palavra de honra!

Port Stephens

Termino como talvez devesse ter começado. Pelo menos em termos de calendário assim seria se não tivesse decidido inverter as voltas todas e terminar com o fim-de-semana de há um mês – 8 e 9 de Setembro – em Port Stephens – a estância de maior luxo deste Estado de New South Wales, cuja capital é a cidade de Sydney. Estou portanto a falar-vos de algo que representa para a cidade de Sydney, como que a nossa Guia, ou Guincho, ou Quinta da Marinha, para os lisboetas – algo de inacessível à bolsa comum, ao cidadão remediado e de aspirações burguesas comedidas, só ao alcance dos verdadeiramente ricos e multimilionários.

No final da anterior crónica (a IVª), eu referia um reencontro que aconteceria, antecipando que o   mundo é grande, mas o amor ajuda a encurtar as lonjuras!

Na data aprazada lá fomos até Port Stephens, estância que a própria Bianca já não visitava há mais de uma dezena de anos. Iriamos encontrar-nos com uma amiga minha que eu já não via há mais de 40 anos. Eu já não me lembrava dela, não fossem umas fotografias que a minha amiga Marina Conceição me mostrara antes da partida de Portugal (sugiro a releitura do capítulo Sandra Sorgentini e Neville Ritchie, da Crónica IV) e eu poderia passar por ela e ela por mim que não seria possível reconhecermo-nos. Os anos passam e deixam as suas marcas...

Lá chegados após três horas de uma agradável viagem de carro para norte de Sydney, demos com a casa da Sandra e do Neville, que nos receberam de braços abertos e com aquele calor e aquela hospitalidade que só África concede aos seus filhos!

A Sandra instalou-nos num apartamento perto de sua casa, um apartamento luxuoso e cheio de tudo o que se pode imaginar e sobretudo onde cada recanto revela o amor que a Sandra e o Neville nutrem pelos seus amigos e pela família. Lá ficámos, descansámos, tomámos um excelente banho e ao jantar voltámos a encontrar-nos com o simpático casal que agora, com os filhotes crescidos, vive só numa formidável mansão de luxo, à beira-mar.

Ao jantar, em sua casa, cozinhado pelo Neville – um excelente gourmand – falou-se de Portugal, do 25 de Abril e de tudo (bom e mau com ele relacionado), das viagens e dos destinos deste e daquele, passaram-se em revista planos, projectos, sonhos e insucessos e já a desoras, cada um marchou para o vale dos lençóis, para um sono reparador.

No dia seguinte a Sandra e o Neville levaram-nos a passear de carro pelas redondezas, e acabámos por tomar um pequeno almoço avantajado num posto de observação e farol desactivados ambos, mas que agora se transformou em local da moda para pequenos almoços de requinte. Fomos ver o sítio dos Pelicanos domesticados, o Soldier’s Point (local privilegiado para os antigos combatentes da 2ª Guera Mundial poderem adquirir por cerca de metade do preço casa ou terreno para construir casa – uma “atenção” cheia de generosidade e reconhecimento por parte da nação australiana que foi fortemente fustigada pela marinha e pela aviação japonesa), fomos visitar o bairro onde a Bianca passara férias com os filhotes quando estes eram irrequietaos teenagers, fomos à marina de Port Stephens onde a Sandra e o Neville tinham um yacht de que se desfizeram quando se puseram a fazer contas a sério (...), almoçámos e fomos visitar o ancoradouro privativo da residência do casal Ritchie, enquanto os dois canitos nos acompanhavam por aqui e por ali. A cadela principal  tinha por coincidência o mesmo nome que a filha da Bianca – Roxy – o que achámos engraçadíssimo e fez com que para sempre fixássemos o seu nome. Aqui é comum dar-se aos animais domésticos nomes de pessoas, com apelido e tudo!!!

Domingo, dia 9 estava a entardecer e a Bianca ainda me queria mostrar uma pequena cidade entre Port Stephens e Sydney – Newcastle – uma cidade que nos conturbados tempos da 2ª Guerra Mundial, constituiu o principal bastião de defesa contra a Armada nipónica.

Após as despedidas e as inevitáveis promessas de que o convívio não ia ficar por ali e nos voltaríamos a ver em breve, partimos com destino marcado.

Lá chegámos a Newcastle a tempo do pôr-do-sol no Obelisco da cidade, uma sentida e honrosa homenagem aos heróis da resistência australiana, fizémos umas fotografias, jantámos fish and chips e já noite cerrada partimos em direcção a Sydney onde chegámos perto da meia-noite, com os corações a transbordar de alegria e com montes de projectos na cabeça.

Porém, agora a prioridade era procurar emprego para dar a volta à situação profissional da Bianca, arrancar com os preparativos para o casamento e dar simultaneamente início às diligências  respeitantes à emigração,uma vez que o tempo vai passando sem que se dê por ele e de repente ele prega-nos o susto de estarmos irremediavelmente em cima das coisas.

Fernando Pessoa dizia sobre o tempo:
O Tempo

Esse dragão que transforma o futuro (que ainda não existe) em passado (que já não existe) através do presente, (que no momento em que nasce logo cai morto) e por isso não chega a existir! Na verdade o tempo transforma o nada em nada através do nada.

Mas o que tem graça é que isso é o nada que é tudo!


Até breve amigos.
Este vosso amigo de sempre, Luis Arriaga,

Sydney, aos 6 de Outubro de 2012.

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