No Queen Victoria Building a Bianca com os amigos Allan e Peter-framed |
Já
há muito que não tenho o tempo e o sossego necessários para pôr a escrita em
dia e as semanas vão passando e as Crónicas vão ficando só na vontade de as
escrever! Mas hoje, enquanto a Bianca se ocupa com os detalhes da Emigração
Australiana (para dar sustento à minha candidatura a um Visto de Parceiro),
decidi voltar ao computador para as Crónicas da ordem.
Cabe
aqui referir, para os que eventualmente tenham dúvidas sobre o nível de
detalhes que as entidades australianas exigem no preenchimento da muita
papelada, meus caros, eles querem saber, entre outras coisas, quando começou o
relacionamento entre mim e a Bianca, como começou, a que propósito e
(espantem-se) quando tivémos a primeira relação sexual e onde! Vá lá... que não
exigem que a gente a descreva... francamente!
Lá
vou consultando a Internet para ir sabendo da evolução da crise política no
nosso rectângulo e devo confessar-vos que nunca estive tão sinceramente
preocupado com a marcha dos acontecimentos, uma vez que quem está de fora acaba
por ter uma percepção diferente das coisas e digo-vos que a sensação que eu (e
não só...) tenho, é a de que até ao fim do ano se vai passar algo de drástico
(não sei se me faço entender...). Numa entrevista concedida à TVI, o
responsável pela classe dos sargentos declarava significativamente “nós
militares somos subordinados, mas não somos subservientes...” Julgo que
está tudo dito e não deverão restar
dúvidas sobre o espírito reinante entre os que têm legitimidade para empunhar
as armas! E não me venham com argumentos legalistas do tipo “um golpe de estado
é ilegal, inconstitucional”, ou outra parvoice qualquer.
Também
o 25 de Abril era ilegal e inconstitucional e fez-se. E o povo saíu à rua e
aderiu e legitimou a revolução que agora tarda já em reaparecer. Mas desta vez
não vai haver cravos...
A
propósito de uma notícia aparecida há dias no google sobre melancias sem
sementes produzidas em Idanha-a-Nova, li um comentário que um daqueles
repentistas anónimos apresentou na internet e que dizia simplesmente (e
transcrevo): Boa ideia! Já agora podem tentar fazer bananas sem casca , ananás
sem picos, sexo sem esforço, chouriços sem carne de porco, alheiras vegetais,
presunto sem gordura... enfim um mundo de facilidades e depois queixem-se que
eles chegando a grandes não sabem fazer a ponta de um corno e se refugiem na
política...!
Lindooooooooooo!
(acrescentei eu!)
Ano
Novo
De
16 para 17 de Setembro os Judeus de todo o mundo comemoraram o Ano Novo Judaico
– Rosh Hashna – entrámos no Ano 5773 e por isso desejo a todos um excelente Ano
Novo.
SHALOM!!!
Como
se poderá perceber pela Numerologia (5+7+7+3=4), as datas de 4, 13 e 22 (todas
elas somam 4) são datas marcantes este ano. Daí que eu e a Bianca nos casemos a
13 de Outubro, logo após a maior festa anual do Calendário Judaico – a Festa do
Perdão, ou Yom Kipur – que se comemora em datas móveis, mas que este ano calha
(em termos de calendário ocidental comum) a partir de 26 de Setembro e até 3 de
Outubro.
A
Festa do Perdão é algo semelhante à Páscoa Católica. É um período de
recolhimento e de jejuns, em que as famílias se reunem e rezam pedindo a Deus
que nos perdoe os pecados e em que nós prometemos também perdoar a quem nos fez
mal, a quem nos criou problemas, a quem nos difamou e pensou mal de nós, a quem
nos tirou dinheiro. Temos mesmo de perdoar e só com esse espírito sincero de
remissão e perdão é possível que se cumpra o propósito do Yom Kipur.
Os
que me conhecem melhor estarão a pensar se eu perdoei à Teresa e se terei
esquecido todos os males provocados aquando da nossa separação! Sim, claro que
perdoei, mas não esqueci. São as lições da vida!
Alguém
sabe dela?
Curiosamente,
ainda em Mafra, frequentei (infelizmente não totalmente) um interessantíssimo
curso ministrado pela querida amiga Pauluxa e onde conheci gente maravilhosa a
quem aproveito aqui para prestar a minha homenagem – Ana Paula Tomás, Carla
Santos, Suzete Guerras e o Joaquim – e vem isto a propósito dos ensinamentos de
um curso da Louise Hay (“Pode Curar a Sua Vida”), uma extraordinária pensadora
na área do desenvolvimento pessoal e uma positivista que também nos ensina a
perdoar, com amor puro e sempre cumprindo parâmetros de auto-aceitação.
Agora
em Sydney... Ano Novo... Vida Nova!
Sydney
Com
o passar dos dias (e já cá estou há dois meses), vou conhecendo melhor a cidade
e vou percebendo um pouco mais das características próprias desta grande
metrópole que tem uma divisão administrativa semelhante à utilizada entre nós.
Ou
seja, se chamássemos Lisboa a toda a área correspondente à Região Metropolitana
de Lisboa e se estendesse um pouco até mais longe (Amadora, Sintra, Mafra, Torres
Vedras, Lourinhã, Caldas da Rainha, para o outro lado Estoril e Cascais, para o
lado de lá do Rio Tejo, Almada, Costa da Caparica, Barreiro, Seixal, etc. até
Setúbal), digamos que se poderia dizer que Lisboa também era uma das maiores
cidades europeias e teríamos uma Lisboa com metade do tamanho de Sydney.
Sydney
é o somatório de uma enorme série de municipalidades dispersas e que, com um
crescimento sustentado e organizado, fez com que fosse ganhando forma um imenso
núcleo urbano que mantém as originais municipalidades, mas que se foi acoplando
e hoje não se dá pelo atravessamento das antigas localidades, que contudo
sobrevivem e mantêm a sua autonomia
administrativa e clubística.
Já
vos referi que aqui o futebol não tem expressão. Eles chamam ao futebol –
soccer – e o desporto-rei é o Rugby, bem como o Cricket. As equipas principais
correspondem aos respectivos bairros, isto é, aos municípios. E dão-lhes nomes
de animais, um pouco à semelhança do que se passava na África do Sul...
Eu
vivo em Merrylands, um “lugar” da municipalidade de Parramatta e a equipa local
(equipamento semelhante ao do Futebol Clube do Porto), é a Eels (Enguias).
Existem os Cangurus, os Wallabies, os Koalas, os Sharks, Bulldogs, Tigers,
Dingos, etc.
Todos
os fins-de-semana há grandes derbys e
quando os desafios são entre a Austrália e a Nova Zelândia (os All Blacks) é
uma paranóia, uma loucura e o país pára, a televisão transmite em directo e as
claques passam-se dos carretos. A África do Sul também cá vem jogar com alguma
frequência, mas a rivalidade não é tão grande como com os Kiwis (a designação
que aqui se dá aos naturais da Nova Zelândia). Só por curiosidade, a selecção
da África do Sul também se designa pelo nome de um animal, lindo por sinal, a elegante
Impala – Springbock – em inglês.
Para
evitar fugas aos impostos e permitir que as vedetas do Rugby recebam à
semelhança dos futebolistas, grandes salários, os clubes autofinanciam-se
organizando Casinos que estão abertos todas as noites até de madrugada. E aqui
não há fugas aos impostos. Os clubes pagam e não bufam! Em compensação, não há
Stanley Ho com estatuto especial de corrida como o escandaloso exemplo do monopolista
Casino Estoril. Os clubes podem organizar os seus próprios casinos que são as
suas grandes fontes de receita. Uma das curiosidades é que, para evitar
bebedeiras e condutores alcoolizados, os clubes proporcionam transporte
gratuito aos seus adeptos, quer em dias de jogos, quer nos outros dias e assim
incentivam a presença constante dos associados.
A
Bianca é associada dos Eels e eu qualquer dia também vou inscrever-me. O cartão
é feito na hora, com fotografia e tudo, e a inscrição custa 10 dollars que são
reembolsados mediante a inteligente medida da passagem imediata de um voucher
utilizável no bar do estádio em refeições, ou lanches. De hora a hora sai um
autocarro que gratuitamente vai transportar a casa os adeptos que queiram
aproveitar o transporte. O circuito é variável consoante os locais (do
município) onde os adeptos vivam. Hein? Que tal? Simples, eficaz e simpático.
Assim vale a pena ser adepto e frequentar as instalações!
Aqui
na Austrália impera o espírito prático. Nada é complicado. Se é complicado, ou
se deixa de lado, ou se dá a volta ao
texto.
Também
há coisas desagradáveis! Querem um exemplo?
Com
a chegada do tempo quente (ultimamente tem estado muito calor, mais de 30
graus... para Primavera é demais...), aparecem as baratas, as “cucarachas”
grandes, voadoras e nojentas. Já tive de matar três delas que entram para
dentro de casa não sei como, e por mais limpezas que se façam, as “putas” das
baratinhas (cockroach em inglês) entram e afligem os mais sensíveis.
Salvation
Army
Esta
instituição com origem nos Estados Unidos da América e constituída com
objectivos filantrópicos, para proporcionar alimentação, roupa e abrigo a
pobres e genericamente a todos os que disso careçam, vive da imprescindível
colaboração de Voluntários que prestam serviço gratuitamente. A população
habituou-se a doar tudo o que já não usa e as fábricas (têxteis, calçado, electrodomésticos,
etc.), também oferecem muita coisa que os voluntários recebem na organização,
classificam, arrumam e depois vendem nos armazéns SALVOS, espalhados pela
cidade e vendem a preços verdadeiramente loucos, super-baratos.
Aqui,
um Curriculum que não inclua voluntariado é desconsiderado. Um estudante
universitário, de engenharia, medicina, arquitectura, seja do que for, tem de
incluir uma componente de voluntariado no seu CV. Caso contrário, anos mais
tarde, ao concorrer a um emprego pode ver-se ultrapassado por um outro
candidato com um curriculum potencialmente mais fraco mas que passa à frente
por ter contribuído para a comunidade com o exercício de voluntariado.
Explicado
este aspecto do voluntariado, volto ao Salvation Army para dizer que é hábito
toda a gente frequentar o SALVOS (designação por que são conhecidos os espaços
de venda de artigos recolhidos pelo Salvation Army), para adquirir coisas em 2ª
mão e que às vezes são absolutamente novas – toalhas, fatos de treino, calças,
vestidos, móveis, aparelhagens, loiça, sapatos, T-shirts, saias, enfim... um
mundo de peças e objectos que se vendem a preços verdadeiramente impensáveis. Quando usadas, são peças rigorosamente
recuperadas e limpinhas, absolutamente aptas a ser usadas. Nada de coisas
miseráveis e nojentas, sem perspectiva
de uso, nada disso!
Há
dias, eu e a Bianca fomos a uma loja do SALVOS
e trouxemos um cobertor, um fato de banho para mim, duas toalhas, um
vestido para a Bianca, um par de chávenas de café, três T-shirts, tudo por sete
dollars (mais ou menos 5,5 euros)! Que tal? Em Portugal este tipo de mercado
daria muito jeitinho não era? Julgo que infelizmente o português terá agora que
se começar a habituar a estes procedimentos humildes e económicos, embora não
goste de usar roupa em 2ª mão. Este tipo de mercado vai certamente começar a
crescer em Portugal.
Por
outro lado, aqui na Austrália, toda a gente tem orgulho em dizer que este
artigo, este móvel, esta cadeira, este robe, este pijama, este fato de banho,
foi adquirido em 2ª mão no SALVOS. Mentalidades...
Casamento
A
data aproxima-se e o 13 de Outubro é já daqui a uma semana. Iniciámos os
preparativos e já enviámos os Convites e as Participações – por Correio e por
mail.
A
maioria dos meus amigos recebe Participações porque vir de Portugal aqui, só
para o casório, é pouco praticável – sejamos objectivos!
As
alianças vêm de Portugal – o nosso ouro é melhor (18 a 24 quilates) e a nossa
mão de obra é muito mais barata. As nossas alianças custaram 450 euros (as
duas) e aqui cada uma delas teria esse preço.
O
celebrante, o Sr. Tim Addison é rodesiano (hoje Zimbabwe), conheceu Moçambique
e fala meia-dúzia de palavras em português. Quando teve uma reunião preparatória
connosco e soube que eu era natural de Moçambique, Lourenço Marques (hoje
Maputo), disse logo que adorava a galinha à Piri-Piri, com muito picante, e que
tinha comido no famoso restaurante da Av. 24 de Julho em LM.
Dos
preparativos fez parte a preocupação em ter uma Menorah Judaica para dar algum
simbolismo à cerimónia, já que não casamos numa Sinagoga. Em Sydney a Sinagoga
é quase exclusiva dos Judeus Askenasi, que pouco convivem com os Sefarditas
(Sefarydin) da Península Ibérica. Na Austrália, Sefarditas só em Melbourne, no
sul, a capital cultural deste imenso país.
Bom
e o casamento judeu pressupõe a presença de pelo menos dez testemunhas – eu
ainda não conheço 10 testemunhas, judeus cá residentes. Um dia talvez os venha
a conhecer, por enquanto não!
Ainda
assim, consegui que me emprestassem uma Menorah para a cerimónia (aquela
estrutura tipo candelabro com sete, ou nove velas). Esta que me vão emprestar
tem nove velas e é muito antiga e bonita, veio de Israel e vai ser emprestada
por uma dentista judia que conheci por cá.
Vamos
prescindir de um velho hábito comum nos casamentos judeus que é o estilhaçar os
copos depois de brindar aos noivos. O casamento vai decorrer em casa e a banda
sonora vai ser música dos Anos 60 gravada pelo meu irmão Zé Couto que
infelizmente não pode estar presente, mas já me prometeu vir em breve
visitar-nos à terra do “down under” (Terras do fim-do-mundo) – daí o nome
destas crónicas que vos envio com todo o meu amor!
Quanto
à comida, aí é que tivemos de fazer concessões importantes, pois o dinheiro não
abunda e em casa há quem saiba cozinhar divinamente – a Michelle – filipina, a
dona da casa onde eu e a Bianca vivemos até ao Natal (mudaremos no Natal para
uma casa só nossa, arrendada, claro). As especialidades serão, portanto, com
sabor exótico e filipino, o que não deixa de ser giro porque, como vos dissera
anteriormente, eu considero os filipinos, os portugueses do oriente, com o seu
espírito de desenrasca, a sua graça constante, a sua hospitalidade, enfim, muitos
dos seus hábitos a fazerem lembrar o nosso torrão natal.
Claro
que não vou prescindir de umas especialidades portuguesas e para o efeito, eu e
a Bianca já fomos a Petersham – o bairro onde vive a maioria dos emigrantes
portugueses – e encomendámos galinha à portuguesa e pastéis de bacalhau! Tinha
de ser! Adoro pastéis de bacalhau e acho que me dava uma coisinha má se os não
tivesse na boda! O prato quente vai ser Paella à Filipina. Não esqueçamos que
as Filipinas foram colónia espanhola e eles falam normalmente três línguas
fluentes: castelhano (mas não gostam de se expressar na língua colonial), falam
o inglês (língua internacional que no oriente todos falam desde o final da 2ª
guerra mundial), e a língua nacional – o Tagallo.
Fotografias
– sim muitas, vai haver três ou quatro pessoas a fotografar e estou em crer que
após as naturais trocas de mails, os fotógrafos de ocasião me irão enviar por
mail as melhores imagens para mais tarde recordar, como dizia o anúncio da
Kodak.
O
Foguete
A
Bianca usando um motor de busca na Internet, recuperou uma gravação minha no
Foguete, com quase trinta anos, um tema que gravei utilizando um playback,
comigo à viola e um grande organista moçambicano em Orgão Hammond, o João
Maurílio, que fez parte dos Inflexos. É uma canção de minha autoria (letra e
música) e que nunca foi gravada em disco, e eu julgava completamente perdida
nas brumas do tempo. Até chorei de comoção com a “descoberta” da Bianca.
Na
ocasião, (1983, i.e. há 29 anos... meu Deus como o tempo passa) eu ainda não
usava barba. Aquando das gravações de “O Foguete” não atribuí título ao tema,
mas agora, baptizo-o de “Luis Arriaga
esta noite em Concerto no Pavilhão Multi-Usos, pelas 22 horas” – um título
comprido para um tema autobiográfico com menos de três minutos e que pode ser
visto e ouvido através do link http://www.youtube.com/watch?v=7uzFAZaL4-s
Só
para que conste, este tema de minha autoria é dos que eu próprio considero dos
mais inspirados que jamais terei composto. Dedico-o ao meu filho Ricardo Guerreiro
Arriaga.
Bianca
desempregada
Quando
vim para a Austrália eu já sabia da necessidade de se cumprir um determinado
pressuposto profissional na vida da Bianca – que o seu contrato fosse
reconfirmado após chegar ao seu termo no final de Agosto.
Uma
semana antes, os serviços respectivos contactaram-na e disseram-lhe que o
contrato não seria renovado.
Caíu-nos um balde de água gelada em cima, como se imagina!
Não
quisemos assustar ninguém, nada dissemos e de imediato a Bianca voltou a
procurar emprego, apresentando pela Internet o seu CV e propondo através do
LinkedIn a sua capacidade de exercer uma excelente prestação como Analista de
Sistemas de Gestão.
O
Departamento de Tráfego Rodoviário e Marítimo de New South Wales, onde a Bianca
estava como Técnica Superior, desde final de Março, não lhe renovava o
contrato, cumprindo instruções gerais federativas, no sentido de reduzir
pessoal não efectivo e lá estava o espectro do desemprego bem à nossa frente.
Contar o dinheiro, refazer planos, planificar tudo por forma a garantir a
sobrevivência não se sabia por quanto tempo.
Eu,
desabituado à vida australiana, perfeitamente em pânico face ao vislumbre de
uma eventual vaga de despedimentos e
desemprego, comecei a imaginar se não seria recomendável recolocarmos um plano
B em execução – Brasil à vista!
A
Bianca sossegou-me dizendo que seria uma questão de quatro ou cinco semanas e
ela escolheria entre várias propostas que entretanto lhe chegariam. Achei-a
demasiadamente optimista. Contudo, se tivesse apostado, eu teria perdido.
Diariamente
n telefonemas e envio de dezenas de
mails, contactos com agentes de emprego e reavaliação do Curriculum Vitae.
Setembro foi marcado por uma nova e diferente vivência. Desta feita com o susto
estampado na alma e a esperança no coração. Só alguns pouquíssimos amigos, mais
chegados, conheciam a situação. Todos eles torcendo e fazendo votos para que a
crise se resolvesse o melhor possível e o desespero passasse depressa. Era o
caso da Maria Vitória, que da Malveira distante reforçava a confiança em dias
melhores, assegurando que lá em cima, Deus zelava por todos nós com especial
dedicação, e que não perdêssemos a fé em nós e Nele, porque tudo se resolveria
bem e depressa.
Assim
foi.
Uma
bela tarde chegou um telefonema a marcar uma primeira reunião num elegante
escritório da baixa de Sydney, numa empresa de Consultoria.
Não
acompanhei a Bianca. Ela preferiu ir sozinha e encarar com coragem esta prova
aos seus conhecimentos, aos seus nervos de aço e ao seu estatuto de
profissional competente.
Nos
dias anteriores também se haviam realizado entrevistas e consultas. Contactos
surgiam, promessas muitas, respostas nenhumas. A disposição esboroava-se como
pão velho, ressequido.
O
telemóvel finalmente soou.
A
Bianca telefonou-me dizendo que desta vez estava com uma esperança especial e
que gostara muito da empresa e das perspectivas apresentadas. Neste nível de
prestação, o salário é obviamente elevado e imagino que o empregador coloque um
especial cuidado nas condições de contratação. Ponto de fulcro polémico – a
capacidade e a experiência como líder de um grupo profissional. A Bianca nunca
liderara um grupo. Foi profissional dedicada, mas falta-lhe prática como chefe,
como líder de um team. Explico que o Mourinho começou por ser professor de
ginástica e depois fora apenas tradutor do Bobbie Robson, a seguir liderou um
grupo de marretas, (se me não engano, no União de Leiria...), e só posteriormente
foi construindo uma carreira que hoje culmina com a opinião generalizada de ser
o melhor treinador do mundo e um exímio condutor de atletas.
Segunda
reunião na UXC – a tal companhia de Consultoria. O responsável pelas
contratações informa-a de que hoje a entrevista vai ser determinante e com o
número um da companhia, o próprio dono.
Último
degrau da escadaria!
Afinal
um homem simples, vai de jeans e sapatilhas e cordialmente conversa de vários
assuntos, entre os quais, (oh espanto!), o facto de ser sócio de uma empresa de
produção de vinhos em Portugal!!! Só foi a Portugal uma vez fazer o referido
negócio dos vinhos, e qualquer dia pretende lá voltar.
No
final da entrevista, detalhes acertados, compromissos assumidos e emprego
conseguido!
Uff
– alívio – desemprego ultrapassado – sucesso obtido – estratégia bem desenhada.
Nessa
noite, combinou-se um jantar de família – havia notícias positivas – agora
seria interessante juntar os dois filhos da Bianca num jantar de família, que
ficou aprazado para sábado 22 de Setembro.
A
Bianca estava inequivocamente de Parabéns.
Assalta-me
à ideia uma frase que vi há dias estampada num montra de uma loja de artefactos
de decoração, aqui em Sydney: Viver não
é saber passar no meio dos pingos de chuva. Saber viver é saber dançar à chuva!
Wow... absolutamente notável!
Feriado
Dia do Trabalhador
Por
cá, os feriados são evidentemente diferentes dos que comemoramos, existindo por
vezes discrepâncias inexplicáveis à primeira vista. Se obviamente o 5 de
Outubro não é Feriado cá, já o Dia do Trabalhador, comemorado em todo o mundo a
1 de Maio, é festejado por estas paragens a 1 de Outubro. Também na Europa se
festeja o Dia do Pai a 19 de Março e por cá, no 2º domingo de Setembro, vá-se
lá saber porquê!
Mas,
para mim o ontem “acabou” e agora estou atento ao amanhã!
Ou,
como diria o meu novo amigo Allan Charlton, Professor Universitário, (lecciona
Media e Estratégias de Mercado e Análise de Audiências), amigo da Bianca e com
quem demos um magnífico passeio no fim-de-semana passado, Ontem é um país estrangeiro que fechou as fronteiras...
Queen
Victoria Building
Não
sei se alguma vez a Rainha Victória, que reinou longamente no Reino Unido, avó
da actual Rainha Isabel, conhecida pela sua moral puritana e pelo rigor com que
encarava todos os assuntos de família e todas as matérias de Estado, terá algum
dia visitado este protectorado que é o território australiano, mas a verdade é
que ela era aqui muito venerada e respeitada, existindo múltiplos vestígios
dessa forma que os seus súbditos aqui tiveram de manter a sua recordação.
Em
Sydney existe um fabuloso edifício, enorme, lindo, bem situado no centro da
baixa da cidade e recuperado com esmero, com gosto, direi mesmo que com
requinte, e hoje transformado no mais admirado Centro Comercial daquela que é
considerada uma das cidades mais lindas do mundo.
No
fim-de-semana passado combinou-se uma passeata (nada de compras que os tempos
não estão para isso...) até ao Queen Victoria Building e o passeio incluía
conviver com dois amigos da Bianca – o Peter Thomas, de Wollongong (que eu já
conhecia do 1º fim-de-semana passado na Austrália) e Allan Charlton, Professor
Universitário, a que acima faço alusão.
Seria
redundante eu por-me a descrever as voltinhas dadas pelo Centro Comercial, no
fundo iguais às voltinhas que todos damos no Colombo, nas Amoreiras, ou no Fonte
Nova. Só vos direi que fiquei fascinado pela elegância deste Centro Comercial, pela
riqueza arquitectónica e pela forma absolutamente imaginativa de como o antigo
e o moderno se conjugam e integram num espaço público, limpíssimo, florido,
seguro e bem organizado, nada cansativo, mantendo a dimensão humana, com
atracções artísticas a cada canto, sucedendo-se em variedade e em imaginação.
Claro que a mim, exerceu um fascínio especial a presença de um violinista
tocando ao vivo, música clássica e também trechos de música ligeira (temas do
repertório de Elvis Presley). Passeámos, conversámos e tomámos café.
Por
curiosidade permitam-me revelar-vos que Allan, um prestigiadíssimo professor
universitário (sem querer estabelecer comparações, direi que é um homem com um
gabarito semelhante ao do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa), é um homem de extrema
simplicidade e que está neste momento a terminar um livro sobre... (e agora
está aqui a surpresa, pois em lugar de vos referir um chatíssimo book sobre uma qualquer tese
universitária sobre Media e Estratégias de Mercado...), está a terminar um
interessantíssimo livro de conselhos e receitas culinárias especialmente
dirigidas a solteiros! Magnífico! Uma excelente ideia comercial e absolutamente
essencial para rapazes e raparigas que, vivendo sozinhos, não têm nem tempo,
nem jeito para a cozinha e para os desenrascar naquelas alturas especiais em
que tenham de receber uma namorada a quem queiram impressionar, ou os pais
dela, enfim... whoever!!!
Depois
de visitarmos o Queen Victoria Building, passámos pela Town Hall, a Câmara
Municipal de Sydney, que mantém hasteada a bandeira dos Aborígenes, recordando
a quem passa por ali as origens deste país e o seu povo original, que mantém
cultura própria, língua própria, estatuto de independência e reserva
territorial incólume, no interior do imenso continente australiano. A bandeira
tricolor é vermelha (representando a côr da terra ocre), o negro (das noites
mágicas do continente) e ao centro, uma bola amarela (representando o sol que
alumia os dias australianos).
Finalmente
fomos dar um passeio de Monorail, um tenzinho de um só carril, que faz um
circuito fechado em torno da baixa de Sydney e de onde se vislumbram paisagens
absolutamente sumptuosas – por favor vejam o blog das fotos http://cronicasaustralia.blogspot.com.au
O
blog contém mais 63 fotografias referentes à Crónica Vª de 6 de Outubro de
2012.
Destaco
a graça (o humor subtil) da designação dada pelos australianos à bicuda ponte
de ANZAC – “Soutien da Madona” – achei lindooooooooooooooo!!!
Jantar
de 22 de Setembro
Por
circunstâncias familiares diversas e que não vêm agora a propósito, já há
vários anos que a Bianca não juntava os seus dois filhos num jantar familiar.
Encontrada
a data de 22 de Setembro, assim se fez a reunião familiar que decorreu de forma
tranquila e romântica, como mandam as regras de qualquer família que se preze,
onde, de forma filial e respeitadora se recordou e reforçou aquele velho
princípio United We Stand, Divided We Fall
(Unidos Permaneceremos, Divididos Cairemos).
A
noite terminou com uma sessão de Karaoke, a que eles aqui chamam (pronúncias...)
de Karalhoki – o que a mim me faz
invariavelmente rir a bandeiras despregadas, devido às semelhanças com algo que
nós sabemos bem o que é... Eles não
compreendem e eu também decidi não lhes explicar...
ISRAEL
Recebi
pela Internet um video extraordinário que decido partilhar com os leitores
deste meu blog e destinatários das minhas crónicas – é um video promocional de
Israel, que considero muto bem feito e rigoroso, sem divagações dispensáveis,
ou propaganda chauvinista sem sentido: http://www.youtube.com/embed/fwBzd2U8NVc?re1=0
Este
trabalho festeja o 64º aniversário da independência do estado de Israel em
2012, ou 5773 do Calendário Judaico. A não perder – juro, prometo, palavra de
honra!
Port
Stephens
Termino
como talvez devesse ter começado. Pelo menos em termos de calendário assim
seria se não tivesse decidido inverter as voltas todas e terminar com o
fim-de-semana de há um mês – 8 e 9 de Setembro – em Port Stephens – a estância
de maior luxo deste Estado de New South Wales, cuja capital é a cidade de
Sydney. Estou portanto a falar-vos de algo que representa para a cidade de
Sydney, como que a nossa Guia, ou Guincho, ou Quinta da Marinha, para os lisboetas
– algo de inacessível à bolsa comum, ao cidadão remediado e de aspirações
burguesas comedidas, só ao alcance dos verdadeiramente ricos e
multimilionários.
No
final da anterior crónica (a IVª), eu referia um reencontro que aconteceria,
antecipando que o mundo é grande, mas o
amor ajuda a encurtar as lonjuras!
Na
data aprazada lá fomos até Port Stephens, estância que a própria Bianca já não
visitava há mais de uma dezena de anos. Iriamos encontrar-nos com uma amiga
minha que eu já não via há mais de 40 anos. Eu já não me lembrava dela, não
fossem umas fotografias que a minha amiga Marina Conceição me mostrara antes da
partida de Portugal (sugiro a releitura do capítulo Sandra Sorgentini e Neville
Ritchie, da Crónica IV) e eu poderia passar por ela e ela por mim que não seria
possível reconhecermo-nos. Os anos passam e deixam as suas marcas...
Lá
chegados após três horas de uma agradável viagem de carro para norte de Sydney,
demos com a casa da Sandra e do Neville, que nos receberam de braços abertos e
com aquele calor e aquela hospitalidade que só África concede aos seus filhos!
A
Sandra instalou-nos num apartamento perto de sua casa, um apartamento luxuoso e
cheio de tudo o que se pode imaginar e sobretudo onde cada recanto revela o
amor que a Sandra e o Neville nutrem pelos seus amigos e pela família. Lá
ficámos, descansámos, tomámos um excelente banho e ao jantar voltámos a
encontrar-nos com o simpático casal que agora, com os filhotes crescidos, vive
só numa formidável mansão de luxo, à beira-mar.
Ao
jantar, em sua casa, cozinhado pelo Neville – um excelente gourmand – falou-se
de Portugal, do 25 de Abril e de tudo (bom e mau com ele relacionado), das
viagens e dos destinos deste e daquele, passaram-se em revista planos,
projectos, sonhos e insucessos e já a desoras, cada um marchou para o vale dos
lençóis, para um sono reparador.
No
dia seguinte a Sandra e o Neville levaram-nos a passear de carro pelas
redondezas, e acabámos por tomar um pequeno almoço avantajado num posto de
observação e farol desactivados ambos, mas que agora se transformou em local da
moda para pequenos almoços de requinte. Fomos ver o sítio dos Pelicanos
domesticados, o Soldier’s Point (local privilegiado para os antigos combatentes
da 2ª Guera Mundial poderem adquirir por cerca de metade do preço casa ou
terreno para construir casa – uma “atenção” cheia de generosidade e
reconhecimento por parte da nação australiana que foi fortemente fustigada pela
marinha e pela aviação japonesa), fomos visitar o bairro onde a Bianca passara
férias com os filhotes quando estes eram irrequietaos teenagers, fomos à marina
de Port Stephens onde a Sandra e o Neville tinham um yacht de que se desfizeram quando se puseram a fazer contas a sério
(...), almoçámos e fomos visitar o ancoradouro privativo da residência do casal
Ritchie, enquanto os dois canitos nos acompanhavam por aqui e por ali. A cadela
principal tinha por coincidência o mesmo
nome que a filha da Bianca – Roxy – o que achámos engraçadíssimo e fez com que
para sempre fixássemos o seu nome. Aqui é comum dar-se aos animais domésticos
nomes de pessoas, com apelido e tudo!!!
Domingo,
dia 9 estava a entardecer e a Bianca ainda me queria mostrar uma pequena cidade
entre Port Stephens e Sydney – Newcastle – uma cidade que nos conturbados
tempos da 2ª Guerra Mundial, constituiu o principal bastião de defesa contra a
Armada nipónica.
Após
as despedidas e as inevitáveis promessas de que o convívio não ia ficar por ali
e nos voltaríamos a ver em breve, partimos com destino marcado.
Lá
chegámos a Newcastle a tempo do pôr-do-sol no Obelisco da cidade, uma sentida e
honrosa homenagem aos heróis da resistência australiana, fizémos umas
fotografias, jantámos fish and chips e
já noite cerrada partimos em direcção a Sydney onde chegámos perto da meia-noite,
com os corações a transbordar de alegria e com montes de projectos na cabeça.
Porém,
agora a prioridade era procurar emprego para dar a volta à situação
profissional da Bianca, arrancar com os preparativos para o casamento e dar
simultaneamente início às diligências
respeitantes à emigração,uma vez que o tempo vai passando sem que se dê
por ele e de repente ele prega-nos o susto de estarmos irremediavelmente em
cima das coisas.
Fernando
Pessoa dizia sobre o tempo:
O
Tempo
Esse
dragão que transforma o futuro (que ainda não existe) em passado (que já não
existe) através do presente, (que no momento em que nasce logo cai morto) e por
isso não chega a existir! Na verdade o tempo transforma o nada em nada através
do nada.
Mas
o que tem graça é que isso é o nada que é tudo!
Até
breve amigos.
Este
vosso amigo de sempre, Luis
Arriaga,
Sydney,
aos 6 de Outubro de 2012.
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