domingo, 3 de novembro de 2013

CRÓNICAS do Fim-do-Mundo 3 - O Casal Ferreira

Estela e Fernando Ferreira 
Antes da viagem, o meu inestimável e muito prezado amigo João Paulo Diniz, agora residente na Malveira, profissional com um passado riquíssimo em inúmeros trabalhos de sucesso feitos para a Radiodifusão Portuguesa, avisara-me que em Sydney eu iria encontrar-me com um português notável, residente há uma data de anos na Austrália, dono de uma das maiores empresas deste país, homem poderoso, mas de humildes origens, beirão ainda com pronúncia marcada da zona de Viseu – um tal Fernando Ferreira – um “gajo porreiro”, segundo as palavras credíveis do próprio João Paulo.

Cá chegado e instalado, telefonei ao Fernando Ferreira a combinar um encontro e logo se acertou uma data, um jantar e pelo tom compreendi de imediato que a pessoa correspondia à descrição do João Paulo – um gajo porreiro!

Jantar combinado para um dos mais elegantes restaurantes da baixa de Sydney, a que eles chamam de CBD – central business district. Cabe aqui explicar que os americanos chamam à baixa de uma qualquer grande cidade “down town”, mas, cada vez que aqui eu referia tal expressão, os australianos emendavam-me sempre, dizendo com um sorriso, hey mate, isso é na América, aqui, na Austrália “down town” é CBD! Eles não gostam de confusões e apreciam distinguir-se dos americanos que consideram ser todos uns cowboys...
Encontrámo-nos no Steel, rigorosamente às 6h45m e feitas as apresentações, fizémos as nossas escolhas e eu, como sempre fugi para algo que se assemelhasse ao bacalhau, a Bianca escolheu, como invariavelmente um prato de salmão, a Estela, a lindíssima e elegantérrima esposa do Fernando escolheu outro prato de peixe e o Fernando escolheu o mesmo que eu! E fartámo-nos de conversar, a noite inteira e só não ficámos mais tempo porque ambos tinhamos deixado os carros em parques de estacionamento que aqui encerram à meia-noite e encerram mesmo, sem apelo nem agravo – quem foi buscar o carro, foi, quem não chegou a tempo... volte no dia seguinte! Ah vais a pé para casa? Temos pena!

E agora, permitam-me que vos fale deste enorme português, vertical, de coragem, admirável, cidadão exemplar, dono de uma das maiores 500 empresas do país – a Wideform – que é neste momento a maior empresa de cofragem do país, responsável pela cofragem (revestimentos e estruturas de aço para a construção das fundações e crescimento das estruturas de todos os prédios, dos pequenos aos mais enormes edifícios), de todas as grandes construções. Transcrevo uma entrevista por ele concedida.

Fernando Ferreira nasceu numa aldeia no sopé da Serra do Caramulo em 1946 (há 66 anos). Em 1970 (com 24 anos), emigrou para a Austrália, país onde trabalhou como ajudante de pedreiro. Mais tarde, fundou uma empresa de construção civil que, hoje, é considerada uma das 500 maiores empresas privadas da Austrália. Em entrevista, o dono da empresa que construiu a cidade olímpica dos Jogos de Sydney em 2000 considera que em Portugal se gasta mais para se  fazer mal.

O empresário português começou por falar das diferenças nas construções que se fazem na Austrália e em Portugal. Para Fernando Ferreira, a construção na Austrália é relativamente rápida. Um prédio normal com 30 a 40 apartamentos é construído no máximo em 12 meses, desde o início das escavações até terminarem a construção. Isto porque na Austrália os meios de construção são rápidos, as obras são muito programadas, há uma exigência muito grande. E dá um exemplo: a obra que a sua empresa está a promover e a construir em Wollongong, um campo de golfe e condomínios, uma obra de 87 milhões de euros com cerca de 40 mil metros quadrados de área de construção vai levar no máximo 18 meses a construir. Na Austrália é tudo à base de subempreiteiros e de empresas especializadas. Existe uma gestão de obra muito rigorosa bem como uma programação que tem de ser cumprida e talvez aí as coisas sejam mais rápidas do que em Portugal. Apesar de que Portugal está a melhorar muito, já se constrói mais rápido, disse.

Quanto às diferenças nos métodos de promoção imobiliária, Fernando Ferreira considera que, na Austrália, os projectos são vistos pela sua qualidade e não por quem está atrás do projecto. Em Portugal, quando tentou desenvolver alguns projectos, não aconteceu isso. Teve alguns que não foram aprovados e não sabe porquê. E depois muitos projectos semelhantes aos seus foram aprovados por outros investidores. Aí é que reside a grande diferença: há regras na Austrália, estudos muito rigorosos e os projectos são aprovados desde que sejam cumpridas as regras e te-nham qualidade e respeitem o plano de pormenor.

Sobre a aprovação de projectos de construção naquele país, o empresário afirma que eles dependem da dimensão do projecto. Há regras de estudos ambientais que têm de se fazer e tudo isso leva tempo. Por exemplo, no projecto de Wollongong surgiram problemas quando encontraram pássaros de migração. Tiveram de criar um ‘habitat’ para eles e fazer um plano de pormenor para aquela zona. Há projectos que levam mais tempo que outros, depende da complexidade, mas de uma forma geral é mais rápida do que em Portugal. Para justificar esta afirmação, Fernando Ferreira diz que na Austrália sabem, quando negociam um terreno, o que podem construir lá. Em Portugal, as regras são muito variáveis, basta ir ao ‘Google Earth’ e ver que as cidades portuguesas são uma mistura, encontram-se parques industriais junto de habitações. Na Austrália isso não acontece: existem zonas próprias onde se pode construir residências, condomínios e zonas industriais. Essas definições tornam os processos mais rápidos.

Na opinião do empresário, o sucesso nesta área obedece a regras. Há cerca de trinta anos, quando entrou na área do imobiliário, foi a um seminário e disseram-lhe que havia três regras fundamentais para ter sucesso. Era a regra três + três: local, local, local e qualidade, qualidade, qualidade. E só a qualidade é que vende. Se não vende é porque não tem qualidade. Em Portugal acontece muito, projectos com grande qualidade não serem aprovados e os com menos qualidade terem aprovação. Por isso encontram-se projectos lindíssimos em arquitectura mas com espaços verdes que não são cumpridos e ao lado de aterros. Na Austrália isso não acontece, um prédio só tem licença de habitação depois de ter as árvores que estavam no plano: se faltar uma pode não obter a licença.

Sobre o mercado imobiliário daquele país, o empresário diz que, neste momento, o mesmo se encontra com uma pequena quebra, mas o que é bom continua a vender e daqui a dois anos irá recuperar.

Metade dos trabalhadores da sua empresa são portugueses. Mas, acrescenta, tem empregados de mais de 15 nacionalidades. O empresário tem levado muitos portugueses para a Austrália porque, disse, lá existe muita falta de mão-de-obra. O país tem uma taxa de desemprego muito baixa, em trinta anos a actual é a mais alta.

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OK! Este foi o homem que eu conheci! Mas a coisa não fica por aqui! A sua mulher, portuguesa do Porto, originária salvo erro de Tondela, Estela Ferreira, é actualmente Embaixadora da Boa Vontade, um cargo ligado às Nações Unidas e ambos têm desenvolvido uma formidável cooperação com Timor, através do apoio a múltiplas obras pequenas e grandes por todo o Timor, não só em Dili. Porém, em Dili, o casal Ferreira está a construir o maior Hotel da cidade, um magnífico projecto de 5 estrelas e que a partir do próximo ano servirá para apoiar o turismo daquele novo país.

São amigos íntimos do Nobel da Paz, o Dr. Ramos Horta, com quem talvez seja possível eu, por intermédio deles, vir a encontrar-me para apresentar o meu Ensaio “Será a Paz uma Ilusão?”, suporte científico da minha tese universitária, no âmbito do doutoramento que cheguei a iniciar em Lisboa, na Universidade Lusófona e que tive de interromper devido à barracada da licenciatura manhosa do Miguel Relvas... Coisas à portuguesa... e falavam eles do Sócrates! (Confesso com grande desilusão: é tudo a mesma grande merda!!! – desculpem-me o comentário!).

Claro que combinámos voltar a encontrar-nos e entretanto, porque já propus casamento à Bianca e ela aceitou, aproveitámos a convidá-los para o nosso casamento que vai ocorrer a 13 de Outubro, um sábado. O Fernando e a Estela serão nossas testemunhas. Aqui, segunto nos informou o celebrante – Tim Addison, natural da antiga Rodésia e conhecedor de Moçambique, onde viajou pelas cidades da Beira e de Lourenço Marques – (onde aprendeu e recordou “um frango com piri-piri”), são precisas quatro testemunhas oficiais.

29 de Agosto, os meus 60 anos

Entretanto constipei-me... eh pá... sucede aos melhores atletas... pronto, mas estou a melhorar e mesmo sem aspirinas a coisa vai ao sítio!

Em casa de quem vivemos, o pai do dono da casa é um velhote filipino, patusco, bem disposto e muito conhecedor da história colonial “escrita” pelos espanhóis e devo dizer que a única herança que ele lhes abona é terem deixado por aquelas paragens a palavra de Cristo, o Cristianismo e a fé católica., Quanto ao mais (e a muitas palavras espanholas naturalmente herdadas, como “trabajo”, “carpintero”, “quaresma” e “cabron”), ele e a generalidade dos filipinos não gostam dos nuestros hermanos, mas... sabem bem distinguir entre portugueses e espanhóis!

No meu dia de anos, para além de uma enorme moldura bonita, para quatro grandes fotografias, ele fez questão de me oferecer uma leitura de mãos e... (bom... não vou contar tudo, senão é uma seca dos diabos), acabou por me dizer que ainda vou ser muito rico, porque tenho a fortuna inscrita em ambas as mãos. A Bianca será a minha última mulher (de facto, espero que à quarta seja de vez...) e que vou viver até aos 90 anos! Ah grande Austrália, vais ter de me aturar por mais trinta anos!

A Bianca teve de trabalhar, mas passei o dia no computador à conversa por mail e por skype, com muitos amigos em Portugal, que felizmente ainda me recordam e guardam de mim as melhores recordações! Aqueles que não têm saudades minhas, que se não lembram de mim, que não me ligam e que até me querem longe... a esses também quero bem, não lhes desejo mal nenhum... até lhes desejo um bem grande! Que Deus abençoe a todos!

À noite, fomos com a filha da Bianca, a Roxy (de 22 anos) e o namorado, Joshua Szabo (de origem húngara), jantar a um restaurante giríssimo – o Hog’s Breath Cafe – cadeia de restaurantes que se instala em antigas garagens abandonadas, transformando-as, decorando-as de uma forma ligeira e com muita graça, como se as instalações fossem “possilgas de luxo” e onde os suínos tratam os homens com alguma dureza, ensinando-as a portarem-se bem, com dísticos do género “não mastigues de boca aberta”, “não saias sem pagar a conta”, “os vegetarianos são bem vindos, mas aqui terão de comer carne”, “Vê se utilizas convenientemente os talheres”, etc. Só se come carne (curiosamente não há carne de porco, como seria de esperar à 1ª vista (...), só carne de vaca, da melhor, múltiplas apresentações e receitas, serviço esmerado, e caro... chiça... muito caro, com cada refeição (sem sobremesa e sem vinho) à volta de 40 euros!

De regresso a casa, houve sessão de Karaoke e todos fizeram o gostinho às cordas vocais! A Bianca surpreendeu cantando um fado! Wow... fiquei deslumbrado, esta mulher é uma caixinha de surpresas!
Depois, bom depois, recolhemos aos aposentos e os relatos terminam pudicamente por aqui...

Como afirmei categoricamente a muitos dos amigos, agora sou finalmente um SEX...agenário, ou talvez um SEX...asneirário, dependendo tal coisa da aplicação do tão badalado e controverso Acordo Horto-Gráfico... o das Hortaliças!!!

Vamos lá a ver como vai isto correr até aos 90!

Para já estou a aguardar a reunião com o Dr. Ramos Horta e estou certo, vou conhecer um homem de tremenda dimensão humana e intelectual. Sintir-me-ei orgulhoso e obviamente prometo relatar-vos o evento!
Até lá, fiquem bem e divirtam-se, aproveitando os últimos furores de Verão. O Inverno anuncia-se rigoroso, não tanto pelos frios, mas mais pela instabilidade social que fatalmente vai “colorir” o panorama em Portugal!  Até ao final do ano virão os meses mais difíceis e onde a crise e o desemprego se farão sentir... Boa Sorte e FFFFORÇA!


Sydney, aos 30 de Agosto de 2012.

Luis Arriaga  

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