domingo, 3 de novembro de 2013

CRÓNICAS do Fim-do-Mundo 2 - Já cá estou há mais de duas semanas!

Eu e Bianca  

E de repente dou comigo à noite a pensar – “já cá estou há mais de duas semanas!” Isto é, já estou fora da “minha” Malveira há mais de 15 dias...

Tenho continuado a passear pelo imenso território de Sydney e agora começo a tomar bem consciência das dimensões e das distâncias galácticas desta terra. A Bianca tem GPS no carro e por vezes ouço a locutora dizer (em inglês, claro) “vire à direita e siga durante 7 quilómetros, depois continue por mais 9 quilómetros e vire à esquerda, apanhe a M5 e siga por 13 quilómetros...”

Curiosamente, ainda hoje ouvia na rádio  um pequeno debate sobre a necessidade de se planear a construção de novas vias estradais para o intenso tráfego de Sydney, com pelo menos 20 anos de antecedência e discutia-se então a conveniência de se criar um novo departamento no serviço de construção de estradas, um departamento que pudesse planear tudo com detalhe, incluindo a aquisição de terrenos para precaver a situação de construção de novas estradas.

É que o facto de haver atrasos na aquisição de terrenos para o efeito pode comprometer as referidas estradas, ou de as tornar de tal forma caras, devido às expropriações a pagar, que inviabilize a execução de novos projectos.

Esta é uma sociedade organizada e avançada, com detalhes curiosos e alguns inesperados até.
Por outro lado, procurei encontrar pontos fracos nesta sociedade tão modelar e quem cá vive afiançou existirem e disseram-me: “Luis, estás na fase de lua-de-mel, vais ver que daqui a um ano já terás visto e revisto alguns defeitos desta sociedade australiana.”

Porém registei um a que chamam de Síndroma da Papoila Alta e que corresponde à preocupação que genericamente existe de tentar alinhar e normalizar todos pela média, desbastando todo aquele que se destaque, evitando assim que alguém em particular possa evidenciar-se. Isto é, tirando obviamente os artistas... não há vedetas!

A propósito de vedetas, percebi que ainda que o Soccer – aquilo a que na Europa se chama de Futebol – não seja popular, uma vez que aqui, o desporto-rei é o Rugby, o Cristiano Ronaldo é um ídolo das meninas e todos o conhecem, mas mais como símbolo sexy do que propriamente... pelos penalties que falha...

Apercebi-me de um defeito grave no tráfego rodoviário. Talvez um defeito importado, mas ainda assim defeito: é que os automobilistas para além de circularem com demasiada velocidade (para o meu gosto), pura e simplesmente não respeitam os peões! Se és peão não tens prioridade na estrada. Queres passar? Espera e quando puderes... arrisca e salta que nem um canguru! Esta é a regra, desumana, mas é assim que esta malta conduz! Talvez seja influência dos chineses, uma vez que na China, devido ao excesso da população, o governo provavelmente até considere conveniente que se atropele mortalmente uma certa percentagem da rapaziada que anda a pé... Acredito portanto que intrínsecamente os australianos não sejam condutores desrespeitadores, mas as influências tomaram conta das ruas de Sydney...  

As noites continuam frias e os dias quentes. Está-se no Inverno e aqui ainda se registam as quatro estações do ano, embora, por vezes, num só dia façam as “cinco” estações – as quatro que se conhecem e a quinta... a tal que nunca se sabe qual é!

Indo a supermercados, perdoem a minha saloiice, mas tenho de vos confessar a minha surpresa de cada vez que vou a um supermercado, é que mesmo sendo de bairro, eles são maiores que os maiores que temos em Portugal e com uma tal quantidade de referências que se perde a cabeça e não se sabe escolher, tantas as opções que se nos colocam. Por exemplo, yogurtes, ou chocolates, ou leite do dia, ou fruta, ou ainda rações de gato – são tantas as marcas e as diversas referências dentro de cada marca, e tanta a quantidade, que só deste ou daquele tipo de produto tem de se percorrer vários corredores de prateleiras carregadas de cima a baixo. E num simples bairro, mesmo que nos pareça humilde e de fracos recursos, existem lojas de rua a perder de vista. Num bairro de gente humilde aonde a Bianca me levou a ver eslavos recebidos pela Austrália aquando da Perestroika, eu vi várias casas de electrodomésticos seguidas e todas a facturar, com frigoríficos a ser vendidos a toda a hora, fogões, máquinas de lavar loiça, roupa, máquinas de secar, micro-ondas, eu sei lá, fariam as delícias do meu amigo Adriano Reis da Mafricentro...

No campo dos automóveis, uma área da predilecção de muitos dos meus amigos, então a coisa é de chorar por mais e perder a cabeça – as marcas e os modelos são mais que muitos e a todo o momento cruzamos com automóveis nunca vistos em Portugal. As oficinas são especializadas e não há de multiserviços, ou seja, se queres substituir faróis tens de te deslocar a especialistas de Auto-ópticas, se queres dar um toque na pintura, terás de procurar oficinas especializadas em pinturas automóveis e assim sucessivamente.

Só fora de Sydney (mas longe...) é que é possível encontrar oficinas multiserviço do tipo das que ainda há em Portugal, do mecânico de bairro que dá um jeitinho seja sobre que assunto for, do curioso que sabe de tudo um pouco e desenrasca. Aqui em Sydney, não há desenrascanços de espécie alguma. Talvez seja esse o segredo desta economia desenvolvida, onde há negócio para todos e onde todos têm lugar, independentemente daquilo que for o seu ganha-pão.

A mão-d’obra é supervalorizada e ainda que a matéria prima seja barata, ou pelo menos ao nível do que o resto do mundo pratica, aquilo que faz disparar os preços é a mais-valia que se acrescenta quando existe serviço especializado aplicado por exemplo à ourivesaria. O ouro aqui vale o mesmo que em Lisboa, mas um par de anéis que se pretenda adquirir custa cinco ou seis vezes mais, exactamente por causa da mão-d’obra especializada.

Num café, por exemplo, é frequente encontrarem-se preços diferentes caso se adquira um lanche e o próprio cliente leve o café e a tosta para a mesa, ou se peça que o empregado sirva o lanche à nossa mesa.


Amigos

Na crónica anterior já vos falara de um amigo novo que aqui fiz – o Peter Thomas – que curiosamente vai de férias esta semana para o Canadá.

Mas aqui fazem-se amigos com facilidade e já tenho mais amigos. Entre os filipinos que vivem por cá, relaciono-me com os da casa e com os seus familiares, um dos quais vive em Darwin, mesmo no norte da Austrália, numa zona onde há contactos com portugueses, sobretudo os que estão colocados em Timor e que com alguma frequência passam férias em Darwin. É o meu amigo Bong que até já sabe dizer meia-dúzia de asneiras em português – foi o que lhe ensinaram... É a chamada aplicação da língua de Camões ao vernáculo do lusitanismo no seu melhor, tipo “filho da p...”, “vai p’ró c....”, “vai-te f....” e por aí adiante! É o que temos para ensinar!!!

Ainda esta semana vou encontrar-me com um dos melhores construtores civis da Austrália, Fernando Ferreira, natural de Viseu e que veio para cá há mais de trinta anos e que aqui fez carreira, e fortuna, apostando na qualidade, construindo só dentro de padrões de elevadíssima qualidade, tendo conquistado o mercado e prémios diversos. E tendo conquistado riqueza e respeito. É por isso que eu digo que a SORTE É QUANDO A COMPETÊNCIA ENCONTRA A OPORTUNIDADE.

Devo este contacto ao meu querido João Paulo Diniz que diligenciou em me fornecer as coordenadas deste português de sucesso na minha última semana de Malveira!

Mais tarde irei reencontrar uma velha amiga de Lourenço Marques, a Sandra Sorgentinni, filha dos ex-donos do Hotel Cardoso, que casou com um sul-africano, o Ritchie, que embora licenciado em Direito, abandonou as leis para se dedicar ao negócio do coque (derivado do carvão) e é hoje o maior produtor de coque deste enorme país.

Destafeita, tenho de agradecer à minha mais antiga amiga de sempre: a minha formidável “irmã” Marina Conceição, que conheço desde os meus seis anos de idade, de Lourenço Marques. Bem hajas querida Marina – dá um abraço ao Zé Luis e Kanimambo!  

E é assim que termino a minha crónica de hoje, já com quase mil e quinhentas palavras redigidas e esperando que tenha merecido a vossa atenção. Fiquem bem e até breve.

Este Vosso, Luis Arriaga – Tm: 0061416508181

Sydney, aos 23 de Agosto de 2012.     

        

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