domingo, 3 de novembro de 2013

CRÓNICAS do Fim-do-Mundo 1 - A minha Viagem para a Austrália

Sydney Harbour Bridge-framed
Era 6ª feira, dia 3 de Agosto, e eu sentia-me empolgado com a viagem que me levaria até à Austrália, terra misteriosa, do outro lado do planeta, a terra dos cangurus e dos koalas, e onde a Bianca (eu pressentia), me esperava ansiosa em Sydney.

No aeroporto, cerca da hora de almoço, sabia que não teria confusão nem grandes despedidas, uma vez que eu próprio pedira aos amigos e à família que lá não fossem, para que as emoções e comoções não se sobrepusessem à necessidade prática de apresentar o bilhete, despachar bagagem, eventualmente pagar taxa de peso extra, etc.

À hora marcada parti em direcção a Bruxelas – primeira escala de uma viagem que, no total, representariam 29 horas de viagem, entre aviões e aeroportos.

Primeira escala: Bruxelas.

Avião TAP, com hospedeiras a falar português, com a habitual hospitalidade e simpatia portuguesas, pequena refeição com sabor nacional, de que me despediria duas horas e meia depois... com saudade!
Bruxelas é capaz de ser uma cidade bonita, mas só a vislumbrei do alto e cheguei já com o escuro da noite a ameaçar tapar tudo. O aeroporto é enorme, com não sei quantos terminais que tinham de ser atravessados com energia para não chegar atrasado ao Checking Board da Etihad, companhia aérea dos Emirados Árabes que me levaria até Abu Dhabi (escala seguinte) e daí para Sydney, a terceira estirada, a mais longa e difícil de suportar, dado o imenso número de horas enfiado no tubo aeronáutico.

No embarque em Bruxelas sucede-me a primeira contrariedade! Um chinoquinha encarregue de controlar o peso da bagagem de mão de cada passageiro, decide demonstrar que noutras latitudes também existe e se pratica o rigor e as regras estabelecidas e... pimba, vai de pesar tudo o que a rapaziada levava como “bagagem de mão”. Eu tinha 5 míseros quilos a mais (que nada são para quem tomara a decisão de viajar para o down under) e tive de passar pela chatice de tirar o peso a mais, embalá-lo numa caixa de papelão e pagar 147 euros, que por acaso tinha à mão, para o caso das entidades alfandegárias australianas me solicitarem a consulta aos meus meios de sobrevivência naquelas paragens...

Chateado e sentindo-me impunemente injustiçado e “assaltado”, reconhecia porém, que não tinha razão de queixa e o chinoquinha fizera os cálculos não a 5, mas somente a 4 quilinhos a mais.

Lá embarquei. Aqui já não havia a simpatia e os sorrisos portugueses das nossas hospedeiras de bordo. Não sei de que nacionalidade eram as jovens que, nos apertados lugares da aeronave, arrumaram os mais de trezentos passageiros que iriam partilhar as quase oito horas de voo até Abu Dhabi. Aliás, nem imaginava que houvesse tantos ocidentais ansiosos por passar férias naquele estranho e pouco seguro destino turístico. De facto, sem nos apercebermos, acabamos por nos perder, ao longo da vida, em inúmeras quimeras e devaneios que nos afastam da crua realidade.

Durante a viagem, não consegui dormir, não me apeteceu ver filmes, não quis ouvir música (2.500 horas de música compactada no Creative Nomad, Jukebox que o Zé Couto diligentemente gravara e me oferecera no aeroporto em Lisboa, avisando-me com aquele sorriso maroto que ele sempre arranja, que os temas ali reunidos iam dar para anos de audição). Realmente não me apetecia nada. Provavelmente estaria à espera de ver o avião ser desviado por um qualquer bando de terroristas, ou de aparecer na coxia o Durão Barroso indo de viagem a alguma cimeira de Paz a favor da Síria!

Ali por perto, seguiam grupos de australianos em camisola interior, de calçãozinho e chinelas de praia no pé. Meu Deus, pensava, estes sacanas não terão frio à chegada a Sydney? É que em Sydney, estava disso avisado, fazia frio! Por cá é Inverno!

Oito horas depois, cerca das seis horas da manhã, locais, aterrámos em Abu Dhabi, num desinteressante país de areia do deserto, onde se plantou o luxo e a grandeza de quem vive do preço do petróleo. Muitos homens vestidos de panos largos, sandálias e panos com quadrados estampados a encimar as cabeças. Morenos, de óculos escuros, bigodes e ar desconfiado, mirando-nos de soslaio, vendo em cada um de nós, verdadeiros representantes da desgraça infligida ao médio-oriente. Seis da manhã e a temperatura já nos 32 graus centígrados! Percebi porque os australianos trajavam tão ligeiramente...

Embora numa terra supostamente rica e poderosa, o aeroporto de Abu Dhabi tem o ar de um apeadeiro ao qual se acrescentou à pressa uma data de edifícios para dar um falso ar de grandeza e modernidade. As casas de banho inacreditavelmente sujas, sem higiene, com aspecto deprimente, fazendo com que um tipo com diarreia hesite sobre se não deverá esperar mais quinze ou dezasseis horas até chegar a Sydney...

Uma sala de espera para os passageiros em escala, sem ar condicionado, sem som ambiente e com milhares de passageiros para os mais variados destinos, dormitando por todos os cantos, entreolhando-se os sobreviventes acordados, mirando-se de forma suspeita, emprestando a toda a cena o ar pesado de um filme sobre um qualquer atentado da AlQaeda. Mas eis que ali, finalmente constato que o meu telefone Vodafone-Portugal tem roaming e funciona! Uau! Ligo para alguém, mas não ouso sequer falar claramente e balbucio as minhas coordenadas, protestando em surdina contra o estado das casas de banho. Na ocasião, passam três agentes da polícia local fardados e armados, olhando-me desconfiados. Sinto que vou ser detido por ser judeu e pertencer à Mossad. Afinal não. Eles seguem e vão não sei para onde.  Sinto que escapei e dou graças a Deus. Anseio por que iniciem o boarding para Sydney. Há atrasos. Começa o embarque para Nova Iorque, com montes daquela gente estranha. Não sei como é que os americanos recebem aquela malta e fico a meditar no nine-eleven!       

De  novo instalado a bordo do aparelho da Etihad, constato que somos mais de trezentos passageiros demandando as terras do fim-do-mundo. Preparo-me mentalmente para mais de catorze horas de viagem, metido num tubo de aço, com gente apertada nos seus lugares. Decido que, levando em linha de conta os avisados conselhos do meu amigo João Paulo Diniz, vou procurar dormir para que à chegada a Sydney, seis da manhã de domingo, dia 5 de Agosto (hora local), eu esteja fresquinho e pronto a aguentar o dia acordado, na tentativa de vencer com vantagem o tal do jet-lag que dá cabo dos horários e atrapalha o sono e a estaleca dos forasteiros.
  
A uma hora de chegarmos, acordam os passageiros, para nos preparamos para o desembarque, para preenchermos uns formulários da emigração australiana, para tomarmos o pequeno almoço e para as habituais idas às super exíguas instalações sanitárias dos aviões. Mentalmente decido preparar-me para uma cilada qualquer. Lá fora ainda está tudo escuro. É noite e não acredito que estejamos a viajar no sentido correcto. Se me servirem carne de porco, tenciono comer. Não vou permitir que me acusem de ser judeu, me apanhem e me condenem a saltar sem paraquedas dos 11mil metros a que o aparelho voa! Afinal servem uma mescelenquice com galinha e não me querem apanhar!

O avião recuperou o atraso e chega às seis da manhã ao aeroporto de Sydney. O sol nasce no horizonte, vindo do calmo oceano Pacífico. A cidade é gigantesca e avistada ao longe parece-me convidativa. Penso: ok, Luis, é aqui que vais ficar. Tenho que ser feliz, tenho de vencer aqui e ter todo o sucesso possível. Vai ter de ser e o que tem de ser...(como dizia o Carlos Paião), tem muita força!

Extensíssimos corredores, filas e mais filas, avisos sobre bens a declarar e as respectivas punições a quem tente aldrabar as autoridades. Woops... cuidado, estes gajos não são para brincadeiras.
Passo a aduana sem novidades e embora tivesse declarado trazer medicamentos (um dos elementos obrigatoriamente a declarar), as autoridades australianas não quiseram inspeccionar e deixam-me passar pela fila 8, a caminho da liberdade...

A Bianca espera-me radiante e esplendorosa, com um sorriso dos deuses, com os braços abertos e um beijo carinhoso. Nunca cinco meses foram tão demorados, tão difíceis de passar. Obrigado por me receberes no teu país maravilhoso e de tantas oportunidades!
Cá estou eu em Sydney.  

O meu 1º dia em Sydney

Saímos rapidamente e confesso que não tendo sido o 1º dos passageiros a abandonar as instalações do aeroporto de Sydney, não fui seguramente o último. Visualizei uma série de tipos a abrir as malas para que as autoridades inspeccionassem as bagagens. Aqui não é para brincadeiras. Regras são regras e quem não quiser sujeitar-se, que pegue nas coisinhas e volte para trás. Quem quiser ficar... tem de cumprir! Decidi aceitar as regras do jogo e sujeitar-me à disciplina Aussie (referente à expressão que distingue tudo o que diz respeito à Austrália).

A Opera House-framed
Vamos em direcção a Parramatta, municipalidade a oeste de Sydney, onde a Bianca alugou uma parte de casa e a partilha com um casal de Filipinos – a Michele e o Nep. Eles não estão em casa, pois domingo de manhã, como bons católicos que são, vão à missa, depois almoçam fora e regressam só à tarde.

Os Filipinos são uma espécie de portugueses do oriente. Alegres, simpáticos, bem dispostos, gostam de anedotas, vivem em torno das famílias e adoram comer. Passam o tempo em comezainas e convívios. Colonizados pelos espanhóis, não os apreciam e preferem o convívio com os portugueses. Não falam castelhano (embora eu desconfie que entendem razoavelmente a língua espanhola), falam um dialecto estranho chamado Tagallo e são na generalidade muito católicos.

Tomámos uma refeição ligeira e decidimos sair para não cairmos na fácil tentação de se ficar a dormir, cedendo o passo ao cansaço, contrariando o tal do jet-lag. À beira do Parramatta River e a uns quilómetros da foz, em plena baixa de Sydney, a Bianca decide oferecer-me um passeio de barco (de Catamaran), que conduz os turistas (nacionais e estrangeiros), rio abaixo até àquela zona de Sydney imortalizada nos milhares de postais que todo o mundo conhece, das imagens da ponte de ferro e da Opera House, na baixa nobre de Sydney, que se chama Circular Quay (pronuncia-se Circular Key). E lá fomos. Deslumbrado, ia tirando fotografias a tudo, reparando nos bairros elegantíssimos que se exibiam ao longo das margens do Rio, com as margens todas arranjadinhas e limpas, assinaladas, adornadas, aqui e ali, parques com grupos familiares divertindo-se numa manhã de inverno, mas soalheira e de temperaturas muito agradáveis (em torno dos 20 graus centígrados).

A navegação de recreio decorre lenta e calma, serena e super agradável. Era o Paraíso! Dali a uma hora chegávamos à esperada foz – o deslumbramento – uma das imagens mais vistas e procuradas do mundo, a baixa de Sydney, com a ponte de ferro e o sumptuoso edifício ícone da cidade – a Opera House. Será seguramente uma das paisagens mais fotografadas do mundo e como não sou excepção, tirei, embasbacado, não sei quantas fotografias dos vários enquadramentos possíveis. A Bianca ria-se satisfeita, também ela comovida com o prazer proporcionado ao seu amiguinho acabadinho de chegar da zona saloia...

Passeámos pela baixa, vi aborígenes a tocar uma tuba típica (didgeridoo), tirei mais umas quantas fotografias, e fomos a uma loja de “recuerdos” turísticos comprar dois bonés com os tradicionais cangurus bordados na pala, um belo album de fotografias sobre a magnífica cidade de Sydney, que o Carlos do Carmo relatava como sendo, em sua opinião, uma das mais lindas cidades do mundo, e uma bandeira australiana que desfraldei e guardei no quarto, como sinal de respeito e agradecimento por estar aqui a viver neste troço da minha vida.

Curiosamente, e embora tivesse certamente ouvido musica desde a chegada ao aeroporto de Sydney, ainda não o tinha feito conscientemente! Eis senão quando na pequena loja de “recuerdos” me dou conta de que está a tocar uma música, um tema que me é familiar, sim, conheço a música... nem mais nem menos que o célebre “Hello, Goodbye” dos Beatles! Ah, como o meu irmão Zé Couto vai adorar saber – o 1º tema que aqui me chega conscientemente aos ouvidos é um velho êxito dos adorados Beatles! A vida é cheia de sinais e este, podem crer, é simpático, porque representa inequivocamente uma alegre saudação de boas vindas. Thanks fellows! Hi, mate!

Considerações Gerais

Aqui parece-me ser tudo muito organizado e sobretudo apresentado da forma mais prática possível. A solução adoptada é sempre a que tem mais sentido prático. Os Australianos são afáveis, muito directos na abordagem dos assuntos e das pessoas, o que pode eventualmente assustar um pouco, alguém vindo da Europa, onde tudo é rebuscado e estratificado por sistemas e plataformas arrumadas conforme as conveniências e onde culturalmente se não dispensam rituais sociais que nos arquivam em prateleiras e classes que, de todo, já não fazem sentido.

Sydney não é a capital da Austrália, embora seja a cidade mais conhecida. A capital está no estado de ACT (Australian Capital Territory), que se encontra totalmente rodeado por NSW – New South Wales (Nova Gales do Sul) e é a moderna cidade de Camberra (lê-se acentuando a 1ª sílaba Camberra).

Sydney tem cinco milhões de habitantes e é não só uma das mais bonitas cidades do mundo, como uma das mais extensas. Para se fazer uma ideia, tem mais ou menos a dimensão de todo o nosso Alentejo... Uma vez que quase só tem prédios altos no centro, naquela zona que todos os postais mostram com a ponte de ferro e o célebre edifício da Opera House, o resto da cidade é praticamente só vivendas com jardim e quintal, onde habita toda aquela gente dos seis milhões de habitantes. Desde palácios sumptuosos, às casas mais simples de brick e tijolo, há de tudo. Em Sydney há até um bairro que é maioritáriamente habitado pelos portugueses – cerca de 57.000 – o bairro de Petersham – onde se vêem bandeiras portuguesas, onde se fala português e há restaurantes com bacalhau à minhota, à Zé do Pipo, onde há vinho português e pão de Mafra.

A comunidade portuguesa é rica, muito unida e tem certamente um estatuto muito respeitável, onde se mantêm alguns dos velhos hábitos, desde sessões de fado, às marchas populares, bacalhau, sardinhas, o gosto pelo futebol... embora por cá, o desporto nacional seja o rugby.

Os bairros são muitos e vão dos mais elegantes e inacessíveis aos mais comuns, semelhantes aos bairros das cidades da Europa. Os bairros são separados e penetrados por imensos jardins, grandes e pequenos, frondosos, com lagos, caminhos para quem faz jogging e pratica desporto, passeio do cão, para quem namora, para quem faz exercício de leitura num banco... tudo!

A Austrália tem a cultura e os hábitos da Europa, a força e o dinheiro da América e a magia e a beleza de África. A Austrália é uma terra de sonho, de futuro e onde a palavra crise é absolutamente desconhecida.
As praias são lindíssimas, mas tem de se ter cuidado porque aqui há tubarões junto da costa e eles atacam forte e feio fazendo anualmente umas quantas vítimas! A vigilância é feita de avião e diariamente quando são avistados os sharks (tubarões), os pilotos comunicam de imediato e as praias em risco são de imediato fechadas aos banhistas.

Aliás na Austrália existem, de uma horrível lista dos 20 animais mais perigosos e mortíferos do mundo, dezóito – 18 – desses bichinhos. Lagartos, aranhas, cobras, tubarões, há de tudo em todo o lado... fora de Sydney, claro, que ainda não vi nenhum... nem cangurus!!!

A propósito, há uma história muito engraçada sobre os cangurus: quando o homem ocidental, branco, chegou a estas paragens (e não se sabe se quem chegou primeiro foram os ingleses, ou os portugueses...) perguntavam aos aborígenes que nome davam aos marsupiais (cangurus), ao que eles respondiam exactamente CANGURU... que significa em aborígene – “Não te percebo”.
Administrativamente a Austrália é dividida em oito estados, dos quais um é uma ilha quase do tamanho de Portugal e que é a Tasmânia, que tenciono visitar em breve.

A diferença horária é actualmente de 9 horas – aqui mais tarde – e depois, cerca da altura da mudança da hora, a diferença passa para 10 horas durante umas duas semanas, e a seguir a diferença passa para 11 horas, durante a hora de Verão aqui na Austrália, ou hora de Inverno aí em Portugal.

O trânsito flui bem, mas conduz-se do lado oposto, pela esquerda, o que nos primeiros dias estabelece enorme confusão e obriga um paciente cidadão a travar a fundo... sem pedais de travão, porque felizmente vamos sentados no lugar de passageiro. Buzina-se à brava, mais que em Lisboa ou Porto, talvez devido à existência de muitos orientais e segundo tenho ouvido relatos diversos, buzinar é mesmo uma instituição em países como China, Vietnam, Coreia, etc.

Outra das surpresas com que somos confrontados, quer estejamos no centro de Sydney, nos arredores, ou até a centenas de quilómetros, nas ruas, em repartições públicas, bancos, lojas, centros comerciais, estádios desportivos, wherever... é a enorme (desproporcionada) quantidade de orientais que aqui vive, razoavelmente integrados e falando inglês, com accempt, mas fazendo-se entender. São gente do Japão, China, Filipinas, Vietnam, Tailândia, Laos, Coreias, Sri Lanka, India, Nepal, Indonésia, enfim... de todo o lado! Isto parece um bocado a história da Arca de Noé. A multiculturalidade é, segundo me informa a Bianca, o que tem ajudado a enriquecer a Austrália e a tornar diversificada a gastronomia local, que beneficia assim dos saberes e sabores de múltiplas paragens desse mundo fora! Por vezes, cai-se até no exagero de, num centro comercial, se ter a sensação de se estar em Hong Kong, tal a quantidade de orientais e todos a falar línguas estranhas, mas com as vogais muito abertas e sonoras, como é típico das gentes do sol nascente.

Politicamente este território é particularmente estável e a moeda é forte – chama-se Dollar Australiano e está ao nível do Dollar Americano. Existe um Governo Federal que superintende e coordena os vários governos estaduais. A democracia é o regime que se entende e aceita por bom e se há palavra que aqui se desconhece é mesmo a palavra crise!

De momento, discute-se sobretudo os fracos resultados da representação olímpica australiana que até ao momento obteve somente sete medalhas de ouro, o que, face aos resultados dos anteriores Jogos Olímpicos representa um decréscimo acentuado, que se discute e não aceita. Existem debates sobre o assunto e pedem-se responsabilidades. Cabeças vão rolar porque os milhões investidos não podem deixar de ter consequências.

Habituado aos resultados nacionais, fui sorrindo e pondo água na fervura, argumentando com o ratio da população – 23 Milhões de habitantes, face aos Biliões da China e aos muitos Milhões dos States, que matemáticamente produzem muitos mais medalhados – é a regra das probabilidades – mas eles não querem cá saber de fum-funs-nem-gaitinhas! Investiram-se milhões querem-se resultados... ou então... os responsáveis pelos fracos resultados!


KIAMA e WOLLONGONG

No primeiro fim-de-semana completo, fomos dar um magnífico passeio para sul de Sydney, a cerca de 150 quilómetros, para Kiama e Wollongong.

Foi quando observei as estradas, as sinalizações e as paisagens. Vi muitos sinais de respeito pelo ambiente, vi excelente condução, vi sinais bem colocados, sem ser em excesso, vi estradas bem desenhadas, vi um cuidado extraordinário com os condutores e até vi avisos atempados de que a partir do quilómetro tal, a autoestrada era paga, mostrando as alternativas para chegar ao mesmo destino, mas em estradas de circulação gratuita e com a indicação de a quantos quilómetros se estava do destino. No fundo, coisas e detalhes perfeitamente passíveis de serem repetidos em Portugal, sem aumento de custos. Mas infelizmente só copiamos o que está mal, ou é sofrível, desprezando exemplos positivos como os que refiro atrás.

Os carros são todos a gasolina e a gasolina é baratíssima. A diesel só tractores e camiões!

Kiama é uma estância de luxo, faz lembrar vagamente um misto de Sintra e Cascais, mas para melhor. Muitas casas de luxo, muitas lojas e muitos turistas, sobretudo japoneses, os mais endinheirados.  

Em Wollongong ficámos instalados em casa de um grande amigo da Bianca, o Peter Thomas que adorei conhecer e com quem tenho este vício incorrigível de gostar de música dos anos 60.

Ganhei um amigo. Para além da Bianca e do casal de filipinos em casa de quem estou, já tenho mais um amigo!

Foi conversa pegada até às tantas e até houve tempo para se ouvir fado, uma vez que o Peter é fan de bom fado e por isso escutámos a Dulce Pontes e a Carminho, CD’s que o Peter adquiriu através da Internet. Vimos um filme dos Blues Brothers (que já correu em Portugal), com excelente banda sonora (com música dos anos 50 e 60) e ceámos panquecas à Crocodile Dundee!

Por aqui o frango à Portuguesa, ou como alguns chamam “Portuguese Burgers” são moda e um chamariz gastronómico muito apreciado. Ao contrário do que possa parecer, o negócio não é de emigrantes portugueses, mas de... (ora adivinhem lá...), de orientais, talvez filipinos, ou indonésios... Viva Timur, Timor Lorosai...

Os portugueses, têm padarias, restaurantes, mercearias, funerárias e lojas de jogo (espero que não seja clandestino...). Somos detentores de dois jornais muito mal feitinhos, muito ao jeito do que de pior a emigração tem por esse mundo fora. Embora com dinheiro e certamente algum poder, não me parece sinceramente que a colónia portuguesa tenha uma especial relevância.

É, como sempre, a questão cultural, e a falta total de apoio do governo português que pretende auferir os réditos de uma situação que implicou seguramente sacrifício, mas que nunca deu, nem dará nada em contrapartida. Enfim, a miséria do costume... A contrastar, os brasileiros assumem a condução do processo e desenvolvem a política do costume – isto é, ocupam o espaço cultural que os portugueses não souberam, ou não quiseram ocupar, na música, na poesia, na organização de eventos culturais, na restauração, na gastronomia, no desporto, no folclore, etc.

Outro factor cultural que distingue esta gente australiana de nós, é o facto de serem públicos e notórios, os Templos Maçónicos, apresentados com carinho e com vaidade, exibindo-se com orgulho o que na Europa ridiculamente se esconde no suposto de que a Maçonaria ainda deve continuar secreta e restrita a uma classe privilegiada. Quanto aos Rotários, mais ainda... é com pompa e circunstância que se anuncia à Comunidade que ali, ou acoli existe um Clube Rotário, fazendo essa menção parte integrante dos roteiros comunitários.

Nesse fim-de-semana ainda houve tempo para o incansável Peter nos mostrar matas formidáveis, cascatas de calendário, quase inacessíveis e maravilhosas, paradisíacas, e até nos mostrou um dos dois únicos Principados independentes que existem na Austrália. Perante o meu total espanto, de ficar com o queixo caído, ele explicou-nos que, ao jeito do espírito prático com que os Australianos encaram todos os problemas, a coisa nasceu de uma discordância em alguém pagar determinado imposto. Muito bem, o governo australiano, tentou, insistiu e acabou por pragmaticamente decidir: ok, tornas-te independente, não pagas os impostos e nós não te fornecemos, nem água, nem luz, nem gás, nem porra nenhuma. O fulano em causa teria pior feitio que eu, seria certamente mais teimoso que eu, mais corajoso que eu, aceitou a proposta, declarou a independência de 10, ou 15 mil metros quadrados e chamou-lhe Principado de uma coisa qualquer e hoje, passados anos dessa altercação, mantém-se independente e já possui forma própria de produzir água e luz.

Imagine-se tal fórmula aplicada entre nós! Tinha acabado tudo ao estalo e a GNR tinha intervindo com uma carga de cavalaria... Isto para não falar nas reportagens da TVI...

Daqui para a frente...

À medida que for havendo motivo para comunicar, fá-lo-ei, neste meu geito de vos contar tudo com o coração nas mãos e com este tom amargo e crítico que já me conhecem. E não é aos 60 anos que vou mudar!!!

Não me perguntem se na rádio popular Australiana passa música portuguesa. Nada de nada! Portugal aqui não existe! Infelizmente isso é ficção científica. O mais próximo aonde se vai é escutar (como ainda hoje sucedeu)  na WSFM (a melhor estação de rádio de Sydney), uma morna Caboverdeana, na voz de Cesária Évora.

Eis o Quinto Império! Portugal é a língua de Camões!

E viva o Acordo Horto-Gráfico!!!

Beijos emocionados deste Vosso, Luigi Luizão Luis Arriaga.

Sydney, aos 16 de Agosto de 2012.


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